Estreptococos do grupo B durante a gestação

por | mar 6, 2024 | Sem categoria

Conforme a gestação se desenvolve, a mulher deve realizar diversos exames, alguns imprescindíveis e outros que podem ser feitos de acordo com o critério da mulher, a partir de orientações recebidas.

Um desses exames diz respeito à pesquisa da bactéria  Streptococcus agalactiae ou Estreptococo do Grupo B (EGB), realizada entre 36 semanas e 37 semanas e 6 dias (objetivando um intervalo máximo de 5 semanas entre a pesquisa e o parto para aumentar a sensibilidade do exame).

O EGB foi identificado nos anos 60, nos Estados Unidos da América (EUA), e emergiu como a principal causa infecciosa de morbidade e mortalidade precoce na década de 1970, permanecendo ainda hoje como a principal causa de sepse de origem materna nesse país.

Essa bactéria é comumente encontrada no intestino dos seres humanos, colonizando naturalmente a região do ânus, reto e vagina, o que não significa necessariamente que exista uma infecção. Justamente, essa bactéria pode conviver na flora da gestante sem causar nenhum dano.

Existe a possibilidade de que o EGB que esteja colonizando mulheres grávidas também colonize recém-nascidos (sem provocar doenças) ou provoque uma infecção nesses bebês (infecção neonatal) tanto em partos vaginais quanto em cesarianas. A infecção neonatal provocada pelo EGB pode se manifestar como pneumonia ou meningite, por exemplo, e evoluir com gravidade, comprometendo todo o organismo e causando inclusive morte.

Estudos recentes têm revelado, no entanto, que, em mulheres com rastreamento positivo para EGB, o uso preventivo de antibiótico durante o trabalho de parto pode reduzir o número de casos de infecção precoce de bebês causada pelo EGB, mas não tem impacto significativo sobre o risco destes bebês morrerem em decorrência da doença.

Como é feito o exame?

A análise é rápida e simples: com a ajuda do swab (semelhante a um cotonete), são retiradas amostras da cultura de bactérias da região vaginal e anal. A partir da análise dessa coleta, é possível detectar a presença ou ausência da bactéria estreptococos do grupo B na região íntima da mãe. O resultado do exame sai em poucos dias.

O resultado positivo influencia no parto normal?

O exame positivo não impede o parto normal. Não se pode indicar uma cesárea apenas porque a mulher está com o resultado positivo para estreptococos do grupo B; esse resultado serve apenas para fazer a triagem das pessoas que, durante o trabalho de parto, precisam de antibióticos.

Estima-se que entre 15% e 20% das gestantes apresentem colonização pela bactéria. Enquanto não se inicia o trabalho de parto, não há risco de infecção. Por isso, caso o resultado tenha sido positivo, a gestante será tratada com antibióticos na veia durante o trabalho de parto, o que diminui muito o risco de transmissão. O índice de contaminação da bactéria para os bebês com a utilização de profilaxia é baixíssimo.

É imprescindível realizar esse exame?
Na Luz, consideramos que esse exame de pesquisa de Estreptococo é facultativo.

Protocolo Britânico: assim como é preconizado pelo Ministério da Saúde, na Inglaterra, a prática é não fazer o exame com todas as gestantes. Dessa forma, receberão antibiótico preventivo aquelas que tem algum fator de risco para o desenvolvimento de infecção por essa bactéria. Os fatores de risco descritos são: trabalho de parto prematuro (iniciados antes de 37 semanas de gestação); recém-nascido anterior que desenvolveu infecção pela bactéria; febre materna de origem indeterminada dursnte o trabalho de parto; ruptura prolongada de membrana (≥18 horas, em trabalho de parto ou não). Caso, durante o pré-natal, a mulher apresente o crescimento dessa bactéria num dos exames se urina que são realizados, também está indicada a administração de antibiótico preventivo durante o trabalho de parto.

Protocolo americano: o Colégio Americano de Obstetrícia orienta que todas as gestantes devem fazer o exame e, com base nos resultados das culturas de conteúdo vaginal e anal, coletados no terceiro trimestre de gestação. Se as culturas forem positivas, devem receber antibiótico profilático durante o trabalho de parto. Se forem negativas, não.

Uma informação importante a ser considerada na tomada de decisão:

A bactéria “colonizar” pessoas adultas significa que ela está presente no organismo sem causar doenças. Essa colonização é intermitente, isto é, ora a bactéria está presente, ora não está. Em outras palavras: o fato de o rastreamento para Estreptococo ser negativo ou positivo no momento da coleta, não garante que, no dia do parto, continuará da mesma forma.

Estudos recentes têm revelado que, em mulheres com rastreamento positivo para EGB, o uso preventivo de antibiótico durante o trabalho de parto pode reduzir o número de casos de infecção precoce de bebês causada pelo EGB, mas não revela impacto significativo sobre o risco destes bebês morrerem em decorrência da doença.

Além disso, há que se considerar a preocupação crescente em relação às consequências do uso crescente de antibióticos em escala global e suas consequências, como a indução de resistência bacteriana e a descolonização do canal de parto de bactérias importantes para a microbiota do bebê.

  • Riscos

Qual o risco de um bebê ter a doença causada por EGB? Aproximadamente 3 casos a cada 10.000 nascimentos – ou 0,03%. (Madrid et al 2017 – dados da América do Sul)

Se eu fizer o exame do cotonete, qual o risco de eu ter um resultado positivo para EGB? Cerca de 20% das gestações têm EGB positivo quando é feito o rastreamento. (Gonçalves et al 2021 – dado do Brasil)

Se eu tiver um resultado positivo para EGB no exame do cotonete, qual o risco do meu bebê ter doença causada por essa bactéria? 1,6% dos bebês de gestantes com cultura positiva para EGB têm a doença se não for feito antibiótico no parto. (Gonçalves et Al 2021 – dado geral)

Qual o risco de um bebê com a doença causada por EGB morrer por isso? 17% dos bebês com a doença terão um caso grave e morrerão por isso.

Qual o risco do bebê ter a doença se eu fizer o swab e depois o antibiótico no parto se o resultado  for positivo? O risco seria de 0,03%  – 3 a cada 10.000. (Hasperhoven et al 2020)

Qual o risco do bebê ter a doença se eu não fizer o exame do swab/cotonete e só fizer antibiótico se tiver fator de risco? O risco nesse caso seria de 0,08% – 8 a cada 10.000. (Hasperhoven et al 2020)

E se eu tiver EGB positivo no exame do swab/cotonete e não fizer antibiótico no parto? Neste caso, o risco do bebê ter a doença é de 1,6% e o risco do bebê ter um caso grave e morrer é de 0,3% (17% de 1,6%, conforme os dados mostrados acima).

Como decidir se devo ou não fazer o exame do cotonete e receber o antibiótico se o resultado vier positivo? Você precisa refletir sobre os dados e avaliar em qual cenário se sente mais segura: fazer o exame e o antibiótico no parto (caso positivo para EGB) reduz o risco do bebê ter a doença, que seria de 0,03% nesse caso. Quando não é feito o rastreamento e o antibiótico é usado na presença dos fatores de risco descritos a seguir, o risco é de 0,08% (um pouco maior em relação à situação anterior). Em ambas as situações, o risco de ocorrer a doença é menor do que 0,1%.

Conclusão

Há, portanto, mais de uma escolha possível e correta. O importante é fazê-la com consciência dos fatores envolvidos, compreendendo o que é o exame, qual seu objetivo e quais são as possíveis consequências de realizá-lo (e do resultado positivo ou negativo) ou não.

Referências:

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