O processo de gestar requer um movimento de readaptação com o nosso corpo durante os 3 trimestres da gestação.
(Temos uma sequência de vídeos no Instagram que fala sobre esses processos. Clique aqui para ouvir um pouco sobre o 1º tri , 2º tri e 3º tri )

No entanto, um assunto sobre o qual pouco se fala é o processo de se conhecer no pós-parto, pois envolve mais uma etapa de adaptação externa desse bebê que acabou de chegar na Terra.

Para falar desse momento tão delicado e especial, foi criado no século passado o termo “exterogestação” pelo antropólogo Ashley Montagu, que argumentou que os primeiros meses após o parto desempenham um papel crucial no contínuo desenvolvimento do bebê. Montagu destacou que, devido à evolução humana para a bipedia (andar sobre duas pernas), a pelve das mulheres se tornou mais estreita, levando os bebês a nascerem em estágios mais “prematuros” em comparação com outros mamíferos.

Essa teoria postula que a gravidez humana não deve se limitar aos tradicionais 9 meses de gestação, estendendo-se por pelo menos mais 3 meses após o parto.

Em comparação com os filhotes de outros mamíferos, os bebês humanos são muito mais dependentes dos cuidados maternos e paternos para a sobrevivência. Seu desenvolvimento é gradual até que eles adquiram a capacidade de locomoção e de se alimentarem, ou, pelo menos, consigam estabelecer padrões de sono e alimentação mais semelhantes aos de adultos.

Com base nisso, Montagu defendeu a ideia de que os primeiros meses de vida do bebê podem ser considerados uma extensão da gestação, embora ocorram fora do útero. Clique aqui para ouvir um pouco mais sobre o assunto com a Médica pediatra Ana Caroline Simões (CRM 2155/DF)

Então vamos falar um pouco sobre cada um desses 3 primeiros meses:

1º mês de vida do bebê

Tente imaginar um bebê no primeiro mês. Ele vai experimentar sensações que nunca vivenciou antes, e ele não está familiarizado com essas sensações. Qual é a consequência dessas novas sensações? Até o momento em que o bebê está dentro da barriga da mãe, existe uma proteção física em relação aos perigos e sensações do mundo exterior.

No entanto, assim que o bebê nasce, essa referência de proteção física é perdida, e ele começa a vivenciar todas essas sensações. É por isso que, por vezes, é tão difícil trocar a roupa de um bebê. Muitas mães já devem ter sentido a seguinte angústia:

“Nossa, eu tiro a roupinha, vou levá-lo para o banho e, meu Deus, ele chora tanto. É tão difícil, parece que ele está angustiado”.

E, de fato, ele está experimentando, talvez pela primeira vez, a sensação de frio. É importante não se culpar ou achar que está fazendo algo errado, pois isso faz parte do momento de descoberta do bebê que está se adaptando ao mundo exterior e à separação física do corpo da mãe. Para ele, isso pode ser percebido como uma ameaça à sua vida!

Vamos ter paciência com esses bebês e realizar as atividades com calma, pois qualquer nova percepção ou sensação pode ser muito desconfortável para eles.

O que vai auxiliar o bebê a passar por essa transição de forma mais tranquila? Tudo o que remeta ao útero, estímulos que são semelhantes ao útero. O contato pela-a-pele, que é super importante, talvez seja o mais conhecido – e isso já é percebido desde o momento do nascimento (a gente sabe que o impacto é enorme quando esse bebê nasce e vai pro colo da mãe). Deixar o bebê contido e carregado num sling, por exemplo, ou ter ruídos brancos de fundo, também remetem ao ambiente que ele experimentou durante a gestação. Então, tudo aquilo que remete à proteção, à segurança que o bebê tinha dentro do útero vai trazer calma, tranquilidade e vai fazer com que os processos adaptativos sejam mais fáceis.

2º mês de vida do bebê

Quando se pensa em uma bebezinho que sai desse primeiro mês e desse primeiro momento de adaptação às sensações fora do útero, o sentimento que o bebê vai sentir é a necessidade de reforçar os vínculos, pois essa é uma necessidade que nasce com a gente: nós somos seres que precisamos de vínculo, precisamos nos apoiar em outras pessoas.

Durante o segundo mês, existe um reforço nessa necessidade de se vincular: esse é o bebê que vai começar a ter o que chamamos de resposta ativa ao contato social.

A mãe (ou outro/a cuidador/a) conversa com ele, ele quer conversar de volta; a mãe sorri para ele, ele sorri de volta. É como se ele estivesse respondendo, é um sentimento de:

“Opa, você está falando comigo? Estou te respondendo.”
”Você está me amando? Estou te amando de volta e eu me sinto amado.”

E essa construção de vínculo é fundamental para que o desenvolvimento continue ocorrendo de maneira saudável.

3º mês de vida do bebê

E o bebê de terceiro mês é aquele bebezinho que, agora que está vinculado, ou seja, agora que está se sentindo amado, pode passar a etapa seguinte: “eu amo, eu sou amado de volta, eu sinto que existe alguém cuidando das minhas necessidades, eu sinto que tem alguém que vai me proteger, aí eu posso começar a me preparar para explorar o mundo.”

Agora esse bebê tem essa segurança de que pode fazer isso, porque tem alguém ali por ele. Então, esse é o bebezinho do terceiro mês: aquele que vai começar a desenvolver a busca dos objetos, vai controlar a mãozinha, vai botar a mãozinha na boca, ele vai começar a ser capaz de promover a autorregulação. Então: “eu boto a minha mãozinha na boca, ela me acalma, às vezes eu nem preciso ir para o peito porque eu consigo me acalmar sozinho com a minha mãozinha. Eu consigo controlar a minha cabeça, e, uma vez que eu controlo a minha cabeça, eu não quero mais ficar deitado, eu quero ver o mundo, eu quero ficar no colo, eu quero explorar as coisas.”

Esse é o bebê do terceiro mês, um bebê que está realmente pronto para começar a vida fora da barriga.

Na teoria, a exterogestação se estende até os 3 meses após o nascimento, a partir dos quais o bebê estaria de fato pronto para viver nesse “mundo exterior”. À medida que a criança se desenvolve, é fundamental que os vínculos que começam a ser construídos nesses primeiros meses se constituam uma base segura, permitindo que ele se sinta confiante para explorar o mundo e saber que pode retornar à sua base diante de experiências dolorosas e desapontadoras, com a certeza de que será bem recebido e consolado.

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