Uma das imagens mais comuns quando pensamos no nascimento de um bebê é a de um choro estridente logo após o parto. Esse momento, muitas vezes visto como um sinal de saúde, faz parte do imaginário popular, mas será que o bebê realmente precisa chorar ao nascer? A resposta é: não necessariamente.
O choro ao nascer está geralmente relacionado à transição respiratória, um processo natural e necessário quando o bebê sai de um ambiente intrauterino, onde estava envolto por líquido, para o mundo externo, onde começa a respirar ar pela primeira vez. Quando os pulmões, que até então estavam preenchidos com líquido, começam a se expandir e a se encher de ar, pode ocorrer o choro, que nada mais é do que uma resposta do corpo à nova condição. No entanto, muitos bebês não choram de imediato e, mesmo assim, passam por essa adaptação de forma absolutamente saudável.
Os primeiros sons que o recém-nascido emite podem ser apenas ruídos suaves, muitas vezes causados pela reabsorção do líquido pulmonar. Esse é um processo esperado e normal. Bebês que não choram logo ao nascer podem ainda assim estar se adaptando adequadamente ao novo ambiente, desde que outros sinais vitais indiquem que estão bem.
O que realmente importa é observar se o bebê está ganhando cor, respirando de maneira eficaz e apresentando tônus muscular adequado. Eles nascem geralmente com uma coloração mais arroxeada, devido à oxigenação dos tecidos, e conforme essa oxigenação melhora, sua pele começa a adquirir um tom mais rosado.
O que é o Apgar e por que o choro não faz parte dele?
Para ajudar a determinar de maneira objetiva como o bebê está se adaptando nos primeiros minutos de vida, os profissionais de saúde utilizam o chamado escore de Apgar. Esse índice, criado pela médica Virginia Apgar na década de 1950, avalia cinco sinais fundamentais da saúde do bebê logo após o nascimento e é repetido após cinco minutos.
Os cinco parâmetros são:
- Frequência cardíaca – A palpação do cordão umbilical ou a ausculta direta no tórax com um estetoscópio avaliam a frequência cardíaca do bebê. Este é um dos sinais mais importantes da vitalidade neonatal.
- Esforço respiratório – Aqui é avaliado se o bebê está respirando de maneira regular e eficiente, sem necessidade de estímulos adicionais.
- Tônus muscular – Um bebê com bom tônus muscular estará se movendo e flexionando os membros. A falta de movimento pode indicar que o bebê ainda precisa de suporte para completar a transição.
- Resposta reflexa – Avaliada por meio de estímulos externos, como um leve toque, essa resposta revela se o bebê tem reflexos adequados para se adaptar ao novo ambiente. Aqui os bebês podem apresentar uma careta, uma tosse, um espirro, ou até mesmo chorar.
- Cor da pele – A coloração da pele é um indicador crucial de oxigenação. Inicialmente, o bebê pode ter um tom mais arroxeado, que deve evoluir para um rosado à medida que a oxigenação melhora.
É importante destacar que o choro não faz parte desse escore. Embora o choro possa ser uma manifestação de resposta reflexa e de respiração, não é um indicador isolado da saúde do bebê. O que realmente importa é que o bebê respire de maneira adequada, mantenha a frequência cardíaca estável, tenha reflexos e cor compatíveis com uma boa adaptação ao ambiente extrauterino.Cada bebê tem seu próprio ritmo
O nascimento é um processo profundo e único, e cada bebê tem seu próprio ritmo de adaptação. Alguns chegam ao mundo com um choro forte e imediato, enquanto outros fazem essa transição de maneira mais tranquila, sem o choro que muitos esperam. Ambos os cenários podem ser absolutamente normais.
O papel dos profissionais de saúde nesse momento é avaliar os sinais vitais e garantir que o bebê esteja recebendo o suporte necessário. Se o bebê está com bons índices de Apgar e apresenta uma adaptação saudável, o choro – ou a ausência dele – não deve ser motivo de preocupação. Afinal, cada nascimento é único e especial, e o mais importante é que o recém-nascido receba o cuidado adequado nessa transição tão significativa.
Então, se o seu bebê não chorou ao nascer, saiba que isso não é, por si só, um indicativo de problema. A saúde do bebê envolve uma série de outros fatores que são cuidadosamente avaliados pela equipe que te acompanha.
Aqui na Luz de Candeeiro nós temos nosso cuidado baseado em evidências e buscamos respeitar o tempo de transição de cada nascimento 🌷
Referências
ÍNDICE DE APGAR E SEU VALOR PROGNÓSTICO EM RECÉM NASCIDOS PRÉ-TERMO