A dor do parto tem sido amplamente discutida em diferentes esferas: filosófica, social e histórica. No entanto, é fundamental entender a fisiologia por trás dessa dor. Parir dói, mas por quê?

A primeira fase do trabalho de Parto

O trabalho de parto é intenso, porém tolerável para a grande maioria das mulheres. As contrações vêm em ondas contráteis que se expandem no sentido das fibras uterinas ajudando a posicionar o bebê, dilatar o colo do útero, e depois, empurrar o bebê para o canal de parto.

Na primeira fase do trabalho de parto, que inclui o período latente e o ativo, a dor tem um componente visceral. Durante essa fase, moléculas inflamatórias e estímulos nervosos são ativados, causando contrações uterinas. Essas contrações, responsáveis por abrir o colo do útero, são o mecanismo pelo qual o bebê começa a descer pela pelve.

Essa dor é essencialmente provocada por estímulos originados nas vísceras — o útero, em particular — que enviam sinais ao cérebro através das raízes nervosas ligadas ao colo do útero. A ação das moléculas inflamatórias no local também contribui para a percepção de dor, já que são agentes do processo inflamatório que sensibilizam os tecidos uterinos.

A segunda fase

Na segunda fase, chamada de período expulsivo, a dor tem uma origem diferente, tornando-se somática. Agora, o que predomina é a pressão do bebê contra os músculos e tecidos da pelve enquanto ele desce. A distensão das fibras musculares e a pressão sobre o assoalho pélvico geram um tipo de dor mais localizada e intensa, comparada à fase anterior.

Segundo Michel Odent, essa mudança de dor reflete a transição no trabalho de parto, onde o corpo da mulher passa a empurrar ativamente o bebê através do canal de parto, ampliando as fibras musculares da pelve e do assoalho pélvico. Essas estruturas, altamente sensíveis, contém uma rica rede de terminações nervosas, o que aumenta a percepção de dor conforme o bebê avança.

O papel dos hormônios no alívio da dor

A percepção da dor, no entanto, não é apenas física, mas também emocional e hormonal. Hormônios como a ocitocina e as beta-endorfinas desempenham um papel crucial no alívio natural da dor durante o parto.

A ocitocina, conhecida como o “hormônio do amor”, é responsável tanto pelas contrações uterinas quanto pela sensação de bem-estar e vínculo emocional, características que também ocorrem durante o orgasmo. Michel Odent destaca que, para que a ocitocina seja liberada em níveis adequados, é necessário que a mulher esteja em um ambiente propício, que promova a sensação de segurança e relaxamento.

As beta-endorfinas, por sua vez, são os analgésicos naturais do corpo. Produzidas pelo cérebro durante situações de estresse e dor, essas substâncias são capazes de modificar a percepção da dor, gerando sensações de euforia e calma. É por isso que algumas mulheres relatam o parto como uma experiência positiva, até mesmo prazerosa.

Ambiência e o cérebro primitivo

A atuação desses hormônios depende de um fator crucial: o ambiente. O parto é um processo regido pelo cérebro primitivo, o sistema límbico. Esse é o centro das emoções e da resposta instintiva no cérebro. No entanto, se o neocórtex, a parte racional e analítica do cérebro, estiver muito ativo — ou seja, se a mulher estiver em um ambiente que a faz se sentir observada ou insegura —, isso pode bloquear a liberação dos hormônios necessários para o alívio da dor.

É por isso que o ambiente durante o parto deve ser calmo, íntimo e respeitoso, promovendo o relaxamento e permitindo que a mulher se entregue ao processo. Nesse estado, conhecido popularmente como “partolândia”, o corpo assume o controle, utilizando toda a sua sabedoria biológica para facilitar o nascimento.

O corpo da mulher foi feito para parir

O ponto central que ressaltamos é que o corpo da mulher foi biologicamente projetado para dar à luz. Isso não significa que a dor será a mesma para todas, ou que toda dor será facilmente suportável sem ajuda. Cada mulher e cada parto são únicos, e o manejo da dor deve ser individualizado.

Nem sempre é necessário evitar intervenções para o alívio da dor. Existem técnicas tanto farmacológicas quanto não farmacológicas que podem ser aplicadas para proporcionar um parto mais confortável. Para saber mais sobre essas opções, recomendamos a leitura do nosso texto sobre manejo da dor no trabalho de parto clicando aqui


Referências Bibliográficas

  • Odent, Michel. The Functions of the Orgasms: The Highways to Transcendence. North Atlantic Books, 2009.
  • Odent, Michel. The Scientification of Love. Free Association Books, 1999.
  • Buckley, Sarah J. Gentle Birth, Gentle Mothering: A Doctor’s Guide to Natural Childbirth and Gentle Early Parenting Choices. Celestial Arts, 2009.
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