Relato de parto da Letícia, nascimento do Saulo

por | jan 3, 2023 | Relatos de Parto

“Relato de um parto que pode parecer romântico nas palavras, mas de tão visceral, ainda não entendo como foi possível parir.”

“Faz um pouco mais de 24h que você chegou ao meu mundi filho (quando comecei a escrever o relato)

O dia era 16, eu tava muito animada porque pedi pro tio do seu pai emprestado” a piscina dele para aliviar as dores e inchaço da gravidez. O feriado acordou com um dia lindo, sem nuvens e muito sol. Quando me levantei, seu pai estava saindo para correr e eu prontamente me arrumei e também fui caminhar no eixão do lazer. Me senti estranhamente disposta, caminhei em um ritmo que fazia tempo sem conseguir – eu já estava andando tão lentamente. Mas, alguma coisa no amarelo do sol, no azul do céu, no rosa dos ipês, no forró que tica ao meu ouvido, me fez dançar alegremente naquela manhã. Encontrei seu avô no meio do caminho. Tomei uma água de coco, comi a carinha do meu coco e do seu pai e formos embora para casa. Eu só pensava: oba, piscina!

Eu comecei a sentir uma dor na lombar antes da gente chegar, achei que tinha exagerado no ritmo da caminhada dançante de mais cedo. Quando entrei na hidromassagem da piscina por volta das 12h a dor tinha aumentado ligeiramente. E até sair dela lá pelas 14h, também comecei a sentir umas cólicas no banco ventre. A hidro foi um ótimo analgésico. Deitei um pouco no sofá da churrasqueira enquanto todos jogavam uma partida. Entre uma pescada e outra comecei a sentir contrações um pouco mais fortes e acho que minha fisionomia deve ter ficado bem alterada. Disse pro Pedro que era hora de ir embora. Entre a piscina e nosso bloco, o Genêsis, foram 15 minutos de carro e 3 contrações bem intensas, cólicas fortes, e um Buscopan que não fez efeito nenhum. Chegamos em casa por volta das 17h e fui direto pro banheiro, no chuveiro quente. Aquilo estava ficando dolorido em um nível um pouco assustador e ritmado demais.
Mandei mensagem pra minha doula 17:30 dizendo que não parecia prodomo, e eu sentia que era o trabalho de parto já. Quando Bianca chegou pra me avaliar, você já estava mais baixo do que o esperado e a indicação foi seguir direto pra casa de parto normal (CPN). Mais 20 minutos dentro do carro e dessa vez eu já não sei quantas contrações foram porque eu só tinha forças para enfrentar-las. Filho…. O primeiro toque na CPN às 19:30, quando chegamos, feito pela Iara, deu 9cm. Eu não consegui acreditar. Foi tudo tão rápido e tão intenso que você não teve tempo para se organizar direitinho para sua descida, seu dorso ainda estava à direita.
Por volta, de 21:40 a bolsa estourou, mas não foi tão simples quanto essas palavras descrevem. Tinha um bolsão bem significativo na sua cabeça. Ela tava encaixada de uma maneira meio tortinha. A nossa equipe com toda sua expertise sugeriu algumas manobras para ajudar e… não foi nada fácil.
Até que chegamos em seis horas de trabalho de parto, por volta das 23h e saímos do risco habitual. Essa horas que correram foram visceralmente brutais. Estou rouca e com a garganta doendo. Seu batimento caiu um pouco, a minha pressão também, e logo em seguida você teve taquicardia. Colocaram oxigênio em mim, a gente estava muito cansado da nossa maratona. Seus batimentos normalizaram. A equipe decidiu que seria importante sermos removidos para terminar nossa jornada no hospital. Já estávamos no expulsivo e aqueles minutos dentro da ambulância foram eternos. A sensação que eu tinha era que eu dormi 2 minutos, e acordava na contração para fazer força.
Eu não sei explicar como foi possível chegar no hospital meio noite e te dar a luz 00:32 do dia 17. Já estava muito além do meu limite. Eu choro lembrando da nossa luta que só pode ser entendida com a mão de Deus segurando as nossas. A coroação, sentir você descendo…meu filho, eu tive tanto medo.
A dor era tamanha que nesse momento eu proferi o que talvez tenha sido minhas únicas palavras durante muitas horas: “tá doendo muito”. E seu pai me sussurrou “você consegue, eu te amo muito”. Você está numa sala cheia de gente, todo mundo torcendo junto com você, acreditando por você, e mesmo assim existe uma solitude intrínseca do processo – só eu e você sabemos o que passamos.

Obrigada meu filho, meu Saulo, meu sal, meu sol, pela oportunidade de te parir. Você me fez invencível!

Obrigada Luz de Candeeiro, Livre Maternagem e Trescê, a jornada que parecia impossível foi costurada detalhada e lindamente com nossas mãos. Pedro… eu não sei o que te dizer em palavras meu amor. Fica a nossa música: olha eu te amo tanto e você sabe, sou capaz de tudo se preciso, só pra ver brilhar a todo instante no seu rosto esse sorriso.”

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