No momento em que tive a confirmação da gravidez, meu coração transbordou em amor e gratidão. Ao mesmo tempo, crenças limitantes invadiram meus pensamentos, e ali foi iniciada a guerra: coração versus cabeça. A minha sorte? Ter sido acompanhada por uma equipe conectada com o coração, a Luz de Candeeiro.
Meu companheiro me apoiou desde o início. Disse que estaria comigo qualquer que fosse a minha escolha, e assim o fez, mesmo sem compreender essencialmente do que se tratava a minha escolha.
As consultas começaram, e a alegria de estar frequentando aquele lugar não tinha preço. Inicialmente, fui recebida pela Dra. Sofia. A consulta mais parecia uma sessão de terapia, uma delícia. Dali, fomos conhecendo toda a equipe. Enfermeiras e médicas alinhadas com uma proposta de nascimento humano, respeitoso e coerente.
A minha gestação seguiu muito bem. Tudo dando certo, embora a minha cabeça insistisse em me lembrar que algo poderia dar errado. Daí, chegou um momento da gestação em que o atendimento passou a ser em grupo. Agora eu estava junto com outras mulheres e vivendo processos parecidos! E a cada conversa, um acolhimento, um empoderamento.
Chegamos ao nono mês e, numa tarde tranquila, uma forte onda de calor bateu. Sem explicação, pois era um fim de tarde chuvoso e bem fresquinho. Segundos dali, veio a cachoeira. Minha bolsa havia rompido! “Caramba, minha filha, você está chegando!”. Uma alegria infinita.
Uma movimentação intensa entre os familiares e eu em estado de alfa, feliz. Conversei com a enfermeira obstetra Marília e fui instruída a ficar em casa, descansando, relaxando e observando a evolução da coisa toda. Isso já foi o suficiente para deixar todos à minha volta bastante ansiosos. “Peraí, você não vai pro hospital? Vai ficar em casa?”. Sim. Ficamos em casa e lá no meio da madrugada o tampão saiu e as contrações começaram, leves e espaçadas.
De manhã, Marília veio me avaliar, ainda em casa, fizemos alguns exercícios e a equipe achou que estava na hora de ir para o CPN- Centro de Parto Normal.
Lá, naquele espaço de luz, cheio de conforto e acolhimento, fomos induzindo naturalmente o ritmo das contrações: balãozinho, acupuntura, caminhada e mais exercícios.
Foi no início da tarde que a dor começou a se intensificar, fui ficando cansada e a ansiedade dos familiares e amigos, me alcançou: “já vai dar 24h de bolsa rota”. Os receios vieram e o corpo sentiu, fui ficando mais cansada. E numa conversa amorosa, me foram apresentadas as possibilidades dali pra frente e decidi que iria continuar o trabalho na Maternidade.
Não foi legal me despedir do CPN, afinal expectativas foram criadas, tantas vezes me imaginei parindo ali. Mas a vida nos ensina que ‘está tudo bem do jeito que é’, assim segui.
Marília nos acompanhou durante todo o percurso até “nos entregar” para a médica plantonista da equipe. Quem era? Dra. Sofia! Com ela iniciei, com ela eu fecharia o processo. Que lindo! Eu estava cansada e ela com todo o gás, super amorosa e com muita energia de doação. Fomos direto pro quarto, ela já havia resolvido toda a burocracia hospitalar.
E foi naquele quarto que tudo se intensificou. Fomos das 19h até às 02h do dia seguinte. Ali vivi uma travessia escura, de dores, dúvidas e cansaço. Mas foi com o meu querido Marcel ao meu lado e a dupla de médicos mais incrível do mundo, Sofia e Juliano, que eu pude alcançar a dilatação necessária. Do escuro, vi a luz e sentia minha Liz cada vez mais baixa. “Tá chegando a hora do nosso encontro aqui fora, minha flor”. Todo o cansaço foi embora, agora eu estava num terreno mais claro, “dilatei, ela vai sair”, eu pensei. E pensei que seria naquele momento, coisa rápida.
Mas a vida é uma escola, e ela não cansa de nos ensinar. O tempo é rei e não me cabe controlar isso. Dali, mais 2h30 de força. Mas não foi de qualquer força. Era uma força selvagem, espiritual, transcendental. Eu estava ali, mas também não estava. Eu procurava a melhor posição e nisso, minha menina, no seu tempo, ia descendo, delicadamente.
Às 04h29, quase na aurora do Dia da Primavera, o papai Marcel recebeu em suas mãos a nossa flor. Tão linda e delicada. E ali, naquele exato momento, uma mãe também nasceu.
Foi um processo maravilhoso, de amor, alegria e força, assim como de dor, dor de cresças e padrões que precisavam ser rompidos.
E tudo isso só foi possível por conta da equipe que nos amparou. Sim, a força, a escolha e a intenção foram minhas e do meu companheiro, mas só teve espaço de expressão por conta das pessoas que nos acompanharam ao longo de todo o processo.
Um processo de muita responsabilidade, de colocar tudo em seu devido lugar: a medicina ao que lhe cabe e o instinto materno no protagonismo, conectando todo o processo.
Uau, que jornada! Quanta gratidão…do início ao fim!