Quantas informações assustadoras você já ouviu sobre o parto? Imagino que muitas, afinal ainda vivemos em uma cultura em que o parto normal não é incentivado e, quando acontece, muitas vezes não é conduzido de forma a proporcionar uma boa experiência de parto para a mulher.
Entre as diversas consequências desse cenário, há a disseminação de mitos: informações que não são verdadeiras e não tem nenhum respaldo científico.
Por isso, hoje vamos falar de 6 mitos sobre o parto normal. O nosso desejo é que essas informações colaborem para que você compreenda um pouco mais sobre a fisiologia do parto e acredite na capacidade inata do corpo da mulher de gestar e parir!
1. A dor do parto equivale a 20 ossos sendo quebrados.
MITO!
O trabalho de parto é intenso, porém tolerável para a grande maioria das mulheres. As contrações vêm em ondas contráteis que se expandem no sentido das fibras uterinas, ajudando a posicionar o bebê, a dilatar o colo do útero, e depois, a empurrar o bebê para o canal de parto.
Cada onda de contração dura aproximadamente 40 a 50 segundos. O tempo entre as ondas é de 2 a 3 minutos. Ou seja, o intervalo é sempre maior que a contração. Não é uma dor sem sentido. Ela está relacionada à chegada de uma nova vida. E existem mecanismos hormonais que equilibram as sensações do trabalho de parto, favorecendo a adaptação à percepção da dor do parto. Por isso, é importante respeitar a sua evolução natural.
O corpo aquece e um fluxo hormonal perfeito é responsável por esse processo. A mulher em fase ativa do trabalho de parto entra em um outro nível de ondas cerebrais, um estado de consciência diferente (a tal da partolândia) que a deixa muito mais instintiva, com a parte racional mais adormecida. Estar em um local acolhedor, com pessoas de sua confiança, favorece a entrega e o relaxamento, proporcionando a vivência da dilatação e da descida do bebê com menos desconforto.
Vários recursos facilitam a travessia: água quente na banheira ou no chuveiro, liberdade de movimentação e ferramentas que facilitem o encontro de posições confortáveis (bola, espaldar, banqueta), massagens, consumo de alimentos leves e energéticos e livre expressão de emoções e necessidades são essenciais.
A proposta é, ao final, a mulher se sentir respeitada e feliz com suas escolhas. Se os métodos não farmacológicos para manejo da dor não forem suficientes, existe a possibilidade da analgesia de parto – feita em ambiente hospitalar.
A analgesia indicada costuma ser uma combinação da raquianestesia (1º efeito) com a peridural (é deixado um cateter para administração de doses adicionais, caso sejam necessárias). Quando bem indicada, essa intervenção pode salvar um parto que seria uma cesariana por exaustão materna ou por dor além do limite individual.
Porém, convém lembrar que, como toda e qualquer intervenção, também possui riscos associados. Informe-se para escolher sempre o melhor caminho.
“Essa dor não é maior do que você.
Na verdade, ela é VOCÊ. Na versão mais profunda, desconhecida e potente.
Ela é a despedida de quem você era.
Ela é a apresentação de quem você será.
Vá ao encontro de si mesma, mulher!”
Olha o que essas mulheres disseram sobre a dor do parto e o mito dos 20 ossos sendo quebrados:
“Rapaaaaz…sei não. Doer, dói pra caramba 😳 pelo menos eu senti 😂 Mas realmente é algo diferente, é a força da natureza agindo, abrindo caminho pra vida. É intenso, é forte e é bom 😅❤️”
“Essa foi a que mais escutei também. Inclusive, acreditei que não seria capaz de sentir tanta dor. Descobri que dor é muito relativo, quando Maria nasceu nem lembrei da existência de analgesia do tanto que foi tranquilo 🤗”
“A foto que mais gosto do parto do Francisco é exatamente essa que registrou o momento intenso da uma contração que tomava conta do meu corpo e da minha alma. Tinha dor? Tinha sim. Mas tinha muito amor, cuidado e principalmente cura!”
2. O parto normal sempre vem acompanhado de episiotomia
MITO!
Esse é um procedimento cirúrgico que consiste em um corte no períneo, na região entre o ânus e a vagina. Essa prática já foi muito usada com a justificativa de facilitar a passagem do bebê no trabalho de parto.
A episiotomia raramente é necessária – já é antiga a recomendação de que a episiotomia seja restrita a casos muito selecionados. No entanto, como a própria ciência não define muito bem que casos necessários seriam esses, pesquisadores e pesquisadoras importantes do mundo inteiro defendem que o corte nunca é necessário. Além disso, em determinados contextos, pode ser considerada violência obstétrica.
Aqui na Luz, nossa prática é baseada na ciência e na fisiologia do corpo da mulher. Um corpo que é capaz de gestar outro corpo dentro de si também é capaz de parir e trazê-lo até esse mundo externo sem a necessidade de cortes para “ajudar” o bebê a sair. A musculatura perineal é forte e capaz de se expandir suficientemente para permitir o nascimento. Às vezes, ocorrem lacerações espontâneas, que são menores, mais superficiais e cicatrizam melhor que o corte feito com tesoura ou bisturi.
Talvez, dessa prática de cortar o períneo tenham surgido muitos outros mitos que envolvem o parto normal, como o mito da vagina que fica larga depois de parir, que faz as pessoas acreditarem que o parto normal “estragaria” a vagina e a tornaria menos apropriada para o sexo.
Então, vamos entender agora esse próximo mito.
3. O parto normal deixa o canal vaginal mais largo e pode prejudicar a vida sexual da mulher.
MITO!
A via de parto, em si, não determina disfunções do assoalho pélvico. Mais determinantes para esse tipo de alteração são a pressão sobre o assoalho pélvico durante a(s) gravidez(es), assistência inadequada ao parto, a episiotomia, além do próprio envelhecimento do corpo e de sua musculatura, que pode se enfraquecer.
Não faz sentido evolutivo e biológico pensar que a natureza teria desenvolvido um mecanismo de parto que fosse causar dano a ela mesma.
Uma assistência adequada ao trabalho de parto e ao parto respeita a fisiologia e a individualidade de cada mulher e o bem estar do bebê. As atitudes de não apressar o período expulsivo e incentivar posições verticais para o parto por si só já são protetoras do períneo.
Em um parto respeitoso, a região genital fica com uma memória positiva, amorosa e potente, o que pode ativar sensibilidades prazerosas que antes não existiam naquela região. Ao contrário, mulheres que se sentem desrespeitadas ou cujos partos não tenham sido bem conduzidos, podem acabar desenvolvendo disfunções sexuais.
Entendemos que o parto é mais uma experiência da sexualidade humana e é comum escutarmos relatos de mulheres que afirmam ter maior sensibilidade e mais prazer na relação sexual após a vivência de um parto normal positivo. Olha o que duas delas disseram:
“Muito pelo contrário. Por aqui aumentou a sensibilidade e com isso o prazer! Orgasmos mais intensos.”
“Eu lembro que me surpreendi (positivamente, claro!) com as sensações mais afloradas que deixaram o sexo mais prazeroso depois dos meus partos. Muito mais consciência corporal e domínio do próprio corpo!”
4. Bebê muito grande ou mulher pequena é indicação para cesariana.
MITO!
Um dos grandes mitos e medos que permeiam o imaginário da cultura do parto no Brasil é a questão da falta de passagem ou do bebê grande demais. Na verdade, raramente, o tamanho, isoladamente é documento.
A bacia feminina é articulada, é uma estrutura dinâmica que pode, sim, se adaptar durante o trabalho de parto e ampliar os seus espaços. E a cabeça do bebê tem as fontanelas (conhecidas como “moleiras”), que são estruturas maleáveis que favorecem com que os ossos de seu crânio possam se aproximar durante o trabalho de parto, reduzindo o diâmetro da cabeça, moldando-se ao canal de parto. Além disso, o bebê, dentro do útero, adota posições favoráveis, como encostar o queixo no peito, o que facilita a passagem pela pelve. Para situações em que de fato isso não aconteça pode haver indicação de cesariana.
Ou seja, é durante o trabalho de parto que vamos detectar esse mecanismo em funcionamento e se ele progride bem. Portanto, na maioria dos casos não é possível afirmar antes do trabalho de parto que não vai ter passagem para o bebê nascer por via vaginal.
Agora vamos para o próximo mito, falando sobre parto normal após cesariana!
5. Depois de uma cesariana é muito arriscado ter um parto vaginal. E, caso aconteça, o parto deve ser obrigatoriamente dentro do hospital.
MITO!
Há consenso na literatura de que um parto vaginal planejado, após cesariana, é uma escolha segura para a maioria das mulheres.
A taxa de sucesso chega a 90% na literatura, a depender de alguns fatores, como a idade materna, índice de massa corporal, se a gestante já teve também um parto normal prévio e o motivo da cesárea anterior.
Em relação ao local de parto, não é obrigatório que o PVAC (parto vaginal após cesariana) ou VBAC (sigla em inglês) aconteça dentro do hospital. Existe a possibilidade do parto acontecer em ambiente extra-hospitalar, como em Centros de Parto no modelo da Luz.
O importante é você conhecer os prós e contras de cada escolha, para poder tomar uma decisão com segurança. Para isso, você pode clicar aqui e ler o documento de Ajuda Decisional!
Esse documento explica quais são as opções que existem para um parto após uma cesariana, quais são os prós e os contras de cada opção e como conseguir suporte para tomar a melhor decisão.
Se você teve uma cesariana prévia, é importante saber que existe a possibilidade de vivenciar um parto vaginal e que ainda é possível vivenciá-lo no Centro de Parto Luz de Candeeiro, em Brasília.
Aqui no Centro de Parto nós acompanhamos com sucesso partos vaginais após cesariana. Nós unimos o melhor de dois mundos: a segurança de uma instituição de saúde pautada na ciência e o conforto de uma casa.
Agora, vamos para o sexto e último mito dessa série.
6. Não existe contraindicação para parto vaginal após cesárea (PVAC)
MITO!
Existem ao menos 3 contraindicações para se ter um parto vaginal após cesárea:
1. Uma incisão uterina vertical (clássica) anterior;
2. Um tipo de incisão anterior desconhecido e a suspeita de que foi uma incisão uterina vertical;
3. Uma ruptura anterior (na cicatriz ou no útero).
Se você tiver uma dessas contraindicações o seu bebê vai nascer por uma outra cesariana, que pode ser feita de uma maneira gentil.
Muitas mulheres que passaram por uma cesariana prévia têm o sonho de vivenciar um parto normal e, na maioria das vezes, é possível, seguro e saudável.
Mas, nos casos em que um parto vaginal não for uma opção, seja em razão de existirem contraindicações ou pela própria escolha da mulher, uma cesariana gentil e respeitosa pode ser realizada.
Intervenções como abaixar a luz da sala, colocar uma música ambiente de acordo com a preferência da mulher, abaixar os campos cirúrgicos para que ela possa ver seu filho nascendo, retirá-lo de dentro do útero em etapas, com calma, avisando que está nascendo, são boas atitudes para o momento.
O bebê pode ser recebido com amorosidade, seco com delicadeza, aninhado no colo ou até ir direto para o colo da mãe, enquanto esperamos o cordão parar de pulsar, fazendo contato pele a pele, enquanto mãe e filho se olham pela primeira vez e se reconhecem.
Com apoio, é possível, inclusive, iniciar a amamentação ainda durante a cirurgia.
Para saber mais sobre parto vaginal após cesariana (PVAC), clique aqui para baixar a Ajuda Decisional, um documento construído pela Luz de Candeeiro para para orientar as mulheres que já tiveram uma cesariana e suas parcerias na tomada de decisão sobre o parto em ambiente extra-hospitalar.
Existem muitos outros mitos sobre o parto normal que permeiam o imaginário das mulheres. Aos poucos, nós vamos construindo um imaginário mais saudável e real para que mulheres voltem a acreditar na fisiologia de seus corpos e em suas capacidades inatas de parir. Para isso, seguimos compartilhando verdades sobre a gestação, o parto e o nascimento e contando boas histórias de parto!
Inclusive, se você quiser ler boas histórias de parto e nascimento é só clicar aqui 🙂
Para conhecer mais nosso jeito de cuidar das mulheres e de seus bebês ou marcar uma consulta, clique aqui. Vai ser uma alegria te receber!
Com carinho,
Luz de Candeeiro