O surgimento do novo coronavírus e da Covid-19 mudou de forma inédita nossas vidas, relações pessoais e profissionais, exigindo de nós uma capacidade ampliada de adaptação e reinvenção.
Continuando o trabalho da Luz de oferecer uma assistência gentil, respeitosa e segura para as mulheres, seus bebês e suas famílias, respondemos algumas perguntas importantes sobre a Covid-19 e o ciclo gravídico-puerperal.
Quais são os riscos da Covid-19 para grávida e bebê?
Pelo conhecimento acumulado até o momento, sabe-se que mulheres que contraem a doença na gestação e no pós-parto têm maiores chances de desenvolver quadros graves, com maior frequência de internação em UTI e necessidade de ventilação mecânica, quando se compara com a população em geral. E, quanto mais avançada a gestação, maior a chance de ocorrência de eventos adversos.
Dados mundiais, assim como importantes publicações brasileiras, revelam uma maior mortalidade materna por causa da Covid-19. No Brasil, essa elevação muito provavelmente está relacionada à dificuldade de acesso ao pré-natal adequado e à assistência qualificada (internação em UTI e ventilação mecânica, por exemplo), permeada por recortes de iniquidade de raça/cor e classe social.
Também como ocorre em outras doenças infecciosas contraídas na gestação, a Covid-19 aumenta o risco de nascimento prematuro, cesariana, além de óbito fetal.
Existem relatos de um baixo risco de transmissão do novo coronavírus da mãe para o feto durante a gestação (de até 2%, mas com raros casos bem documentados) e, até o momento, não se pode relacionar a infecção a malformações fetais ou aumento de chance de abortamento.
Após o nascimento, os casos de bebês que contraíram a Covid-19 têm sido leves e o contágio se deu por contato com adultos positivos.
Estamos numa nova onda? Que cuidados tomar?
Não há dúvidas de que estamos atravessando, no Brasil, mais uma onda de Covid-19. Algumas horas antes da atualização deste texto, a taxa de transmissão da doença no Distrito Federal estava em 1,8 – o que significa que a cada 100 pessoas com a doença, outras 180 são infectadas. A doença está fora de controle.
Acredite: por mais que ainda existam discursos dissonantes e negacionistas, 100% dos estudos científicos sérios e de qualidade e das instituições médicas e científicas mais respeitadas de todo o planeta recomendam o uso de máscara, o distanciamento social, a vacinação como medidas eficazes de reduzir a disseminação do vírus.
Há consenso na comunidade científica sobre o importante papel do uso correto de máscaras de boa qualidade (N95 ou PFF2) na proteção contra a Covid-19. Use-as! Vale a pena se cuidar!
A partir da avaliação e da gestão individual de riscos (faço parte de grupo que tem maior chance de gravidade?), é possível estimar e ampliar a segurança dos encontros e de atividades sociais. Persiste a indicação de que sejam priorizados ambientes abertos, bem ventilados, ao ar livre, sem aglomerações.
Quais são os principais cuidados que a mulher grávida ou puérpera ainda precisa ter?
♡ Usar máscaras de qualidade e de forma correta;
♡ Higienizar as mãos com água e sabão e/ou álcool a 70% de forma adequada e frequente;
♡ Praticar etiqueta respiratória: não sair de casa de estiver com sintomas respiratórios e entrar em contato com a equipe de profissionais que cuida de você para receber orientações sobre testagem e tratamento;
♡ Evitar aglomerações, especialmente em locais fechados, sem ventilação;
♡ Procurar manter a mente sã num corpo são: adote uma alimentação saudável, pratique atividade física regularmente, observe se seus pensamentos e suas emoções retornam a um equilíbrio, apesar de momentos de mais angústia ou das dificuldades atravessadas.
Este tem sido já um longo período que nos exige resiliência. Caso note sinais de sofrimento mental e emocional ou dificuldades em manter-se bem ou em manejar os desafios cotidianos, não hesite em procurar suporte terapêutico.
Existe alguma evidência de benefício do uso de medicamentos preventivos ou como tratamento precoce para Covid-19?
Para prevenção, infelizmente, não. Até o momento, o que realmente se mostra eficaz para proteger as pessoas e evitar a doença e suas formas graves são as medidas de higiene, etiqueta respiratória, uso de máscaras e, claro, a vacinação (mais sobre as vacinas abaixo).
Desde março de 2022, foi aprovado o uso emergencial do Paxlovid (combinação de nirmatrelvir com ritonavir) para tratamento ambulatorial da Covid-19 para pacientes que têm maior risco de desenvolver doença grave e, há poucos dias, a venda desse medicamento em farmácias foi autorizada. Entretanto, para gestantes, essa medicação não pode ser utilizada.
Para casos leves de Covid-19 (sem sinais de pneumonia viral ou queda na oxigenação), a prescrição de sintomáticos, repouso e hidratação costuma ser suficiente. Casos moderados e graves precisam de avaliação complementar e condução individualizada.
Se eu estiver com sintomas ou diagnóstico de Covid-19, posso ir à consulta normalmente? Posso manter o plano de ter o parto fora do hospital?
Pode não!
Adie sua consulta ou seu exame se você estiver com sintomas respiratórios (tosse, espirro, coriza, obstrução nasal), dor de garganta, dor de cabeça, febre, dor ou pressão no peito, diarreia, náuseas, vômitos, mal-estar, dor no corpo, alteração de paladar ou olfato. Entre em contato com a/o obstetra de referência.
A presença de sintomas sem diagnóstico ou o diagnóstico de Covid-19 (ou outra infecção ativa) é critério para parto hospitalar (não é possível parto no Centro de Parto da Luz)!
E as vacinas?
Nunca se viu na história mundial tanto esforço conjunto para o alcance de um objetivo comum. Isso incluiu a retomada de linhas de pesquisas pausadas, o amplo compartilhamento de dados e resultados científicos, o forte investimento em recursos pessoais e tecnológicos. Daí vem a celeridade do desenvolvimento das vacinas, não da violação de protocolos de ética e de qualidade em pesquisa científica.
Os dados produzidos e publicados até o momento não deixam dúvidas: vacinas salvam vidas!
Além das recomendações nacionais:
- Governo recomenda vacinação contra Covid-19 em gestantes e puérperas sem comorbidades
- Febrasgo, Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Imunizações, Associação Médica Brasileira – Eventos Adversos em gestantes e puérperas e a vacinação contra a Covid-19
TODAS as sociedades e organizações científicas internacionais recomendam a vacinação de gestantes contra Covid-19, em qualquer idade gestacional e o mais cedo possível (não precisa esperar passar nem o 1º trimestre, nem qualquer outro momento da gestação para tomar).
Os benefícios da vacina contra a Covid-19 são muito superiores aos possíveis efeitos adversos, que, em geral, são leves e passageiros. O que realmente traz riscos de consequências graves à gestante ou ao feto é a própria doença!
Veja alguns exemplos de recomendações internacionais a seguir (pode usar o tradutor do Google para ler, se necessário):
- CDC – COVID-19 Vaccines While Pregnant or Breastfeeding
- RCOG (Colégio Real de Obstetras e Ginecologistas) – COVID-19 vaccines, pregnancy and breastfeeding FAQs
- ACOG (Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas) e SMFM (Sociedade de Medicina Materno-fetal) – COVID-19 Vaccination Considerations for Obstetric–Gynecologic Care | ACOG
- NHS (National Health System, Sistema de saúde do Reino Unido) – Pregnancy, breastfeeding, fertility and coronavirus (COVID-19) vaccination – NHS
- Ministério da Saúde do Canadá – Ministry of Health COVID-19 Vaccine Guidance Version 3.1 November 7, 2022
O RCOG disponibilizou ainda uma Ajuda Decisional para apoiar o processo de escolha das mulheres: Information sheet and decision aid: Updated Monday 23 May 2022
O ideal é que as mulheres grávidas e puérperas tenham tomado, pelo menos, 3 doses. Se elegíveis, devem, sim, receber a 4ª dose.
Melhor, na verdade, seria que toda a população já estivesse recebendo nova dose de reforço com a vacina bivalente, que mira na variante Ômicron também. No entanto, essa vacina teve seu uso aprovado apenas há poucos dias e, infelizmente, não temos previsão de quando estará disponível.
E bebês de mães que receberam a vacina estão protegidos?
Em fevereiro de 2020, o CDC publicou dados robustos sobre o tema que permitem concluir: bebês de mães vacinadas durante a gestação tiveram redução significativa de risco de hospitalização por Covid-19 nos primeiros 6 meses de vida! (Effectiveness of Maternal Vaccination with mRNA COVID-19 Vaccine During Pregnancy Against COVID-19–Associated Hospitalization in Infants Aged <6 Months)
Da mesma forma como sabemos que acontece com outras vacinas tomadas durante a gestação, como coqueluche e influenza, há passagem de anticorpos da mãe para o bebê ainda dentro do útero e esses anticorpos também são encontrados no leite materno.
E a vacinação de crianças?
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) apoiam e incentivam a vacinação de crianças contra a Covid-19. Veja o posicionamento da sociedade aqui: Atualização sobre Vacinas COVID-19 em Pediatria
Nessa atualização, a SBP manifesta-se favorável à administração da Coronavac para crianças a partir de 3 anos de idade, informa que não é necessário intervalo entre as vacinas contra Covid-19 e demais vacinas do calendário vacinal infantil e recomenda uma terceira dose para crianças de 5 a 11 anos.
Mais recentemente, tanto a SBP quanto a SBIm comemoraram a aprovação da vacina de mRNA para bebês de 6 meses a 4 anos e endossam sua utilização. Veja aqui: Autorização do Uso da Vacina COMIRNATY (Pfizer) em crianças de 6 meses a 4 anos
O relatório do CDC de farmacovigilância (ou fase 4 dos estudos clínicos) de dezembro/21 já confirmava, com mais de 8 milhões de crianças vacinadas (das quais cerca de 4 milhões responderam aos questionários), que os efeitos adversos graves da vacina são muito raros, semelhantes à outras vacinas que crianças tomam.COVID-19 Vaccine Safety in Children Aged 5–11 Years — United States, November 3–December 19, 2021
O órgão continua monitorando dados de eficácia e segurança, que podem ser acompanhados aqui: COVID-19 Vaccine Safety in Children and Teens | CDC
Qual é o risco para a gestante ao frequentar um ambiente hospitalar?
Por causa do novo Coronavírus, as pessoas passaram a ver o hospital como um local de risco para contrair doenças. Mas, na verdade, do ponto de vista bacteriológico e viral, ele sempre foi um local de risco, tendo em vista que é o local que pessoas doentes buscam para se curar.
Para evitar o risco de contaminação em ambiente hospitalar – seja no pré-natal, no parto, no nascimento ou no pós-parto -, as mulheres e suas parcerias podem e devem tomar todos os cuidados citados acima e também, se assim fizer sentido, procurar assistência fora do hospital.
Considerar viver essa experiência fora do ambiente hospitalar é uma possibilidade para mulheres e bebês saudáveis. Em Brasília, a Luz de Candeeiro é a casa de parto privada que presta esta assistência sempre com segurança, cuidado, gentileza e amorosidade.
Qual é o local mais seguro para o parto e o nascimento em tempos de Covid?
Isso vai depender de cada mulher, da evolução saudável da sua gestação, do bom desenvolvimento de seu bebê.
Esse contexto de pandemia tem levado muitas pessoas a enxergarem que parto e nascimento não devem ser tratados como eventos que tem que acontecer em um ambiente hospitalar obrigatoriamente.
Assim, tem crescido a procura por assistência ao parto e ao nascimento fora do hospital, uma vez que está mais clara a relação entre riscos e benefícios do ambiente hospitalar. Parto em centro de parto normal (fora do hospital) e também o parto domiciliar são opções possíveis para mulheres e bebês saudáveis!
A Covid-19 mudou a atenção da Luz no recebimento de novos atendimentos em relação ao tempo gestacional?
Mantemos o padrão de cuidado associado a todas as medidas necessárias de proteção das pessoas. A equipe da Luz de Candeeiro está pronta para receber as mulheres e suas parcerias e prestar todo cuidado físico e emocional que esse momento exige.
A nossa disponibilidade para atender mulheres em idade gestacional mais avançada depende de como está nossa agenda de partos, pois nos comprometemos com um número limitado de mulheres por mês.
Vale a pena e é ideal começar o pré-natal com a gente o quanto antes! Beber da nossa fonte de cuidado e informações, estabelecer e fortalecer o vínculo com nossa filosofia e com nossa equipe!
Acreditamos que ainda levaremos algum tempo processando e assimilando todos os aprendizados que essa pandemia nos trouxe, não só do ponto de vista científico, mas também enquanto comunidade e humanidade.
Seguimos fortalecendo nosso compromisso com um cuidado ético, cientificamente embasado, que fomenta e fortalece a autonomia e o protagonismo das mulheres no gestar e parir, e que é preenchido sempre de amor. Mudando o mundo, uma família de cada vez.
Aqui deixamos nosso abraço. Virtual, mas não menos amigo e caloroso.
Referências e textos de apoio:
COVID-19: Overview of pregnancy issues – UpToDate
COVID-19: Antepartum care of pregnant patients with symptomatic infection
COVID-19: Management of adults with acute illness in the outpatient setting
Halasa NB, Olson SM, Staat MA, et al. Effectiveness of Maternal Vaccination with mRNA COVID-19 Vaccine During Pregnancy Against COVID-19–Associated Hospitalization in Infants Aged <6 Months — 17 States, July 2021–January 2022. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2022;71:264–270. DOI: http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.mm7107e3external icon.
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