Privilégio anteriormente do sexo masculino, as mulheres passaram, recentemente, a representar importante grupo na prática da atividade física e, embora persistam controvérsias sobre esta prática no período gestacional, a atividade física vem ganhando cada vez mais espaço entre as gestantes.
MUDANÇA DE PARADIGMA
Em décadas passadas, as gestantes eram aconselhadas a reduzirem suas atividades e interromperem, até mesmo, o trabalho, especialmente durante os estágios finais da gestação, acreditando-se que essas atividades aumentariam o risco de trabalho de parto prematuro por meio de estimulação da atividade uterina.
No entanto, em meados da década de 90, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, reconheceu que a prática da atividade física regular no período gestacional, deveria ser desenvolvida desde que a gestante apresentasse condições apropriadas.
Muitas gestantes, especialmente as que não têm histórico de atividade física, têm dúvidas sobre o que podem ou não fazer durante a gestação. A boa notícia é que estudos indicam que exercícios físicos para gestantes que podem favorecer a saúde materna e fetal.
O corpo da gestante nunca está em repouso completo. Durante todo o tempo, existe um ser humano se desenvolvendo no útero e todos os nutrientes de que ele necessita são providos pela mãe. É um trabalho intenso que durará, em média, 40 semanas; então, é natural que as mulheres grávidas frequentemente se sintam cansadas, ainda mais no último trimestre. Conciliar esse esforço fora do comum com uma rotina de atividade física na gestação pode parecer difícil, mas é algo que pode agregar muitos benefícios para saúde da mãe e do bebê.
RECOMENDAÇÕES
Ainda não existem recomendações padronizadas de atividade física durante a gestação. No entanto, frente à ausência de complicações obstétricas, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, recomenda que a atividade física desenvolvida durante a gestação, tenha por características:
- exercícios de intensidade regular e moderada, adaptados ao período gestacional, com as atividades centradas nas condições de saúde da gestante e em suas experiência prévia em praticar exercícios físicos.
BENEFÍCIOS COMPROVADOS
Os benefícios da prática de atividades físicas durante a gestação são diversos e atingem diferentes áreas do organismo materno. O exercício reduz e previne as lombalgias, devido à orientação da postura correta da gestante frente à hiperlordose que comumente surge durante a gestação, em função da expansão do útero na cavidade abdominal e o conseqüente desvio do centro gravitacional. Nestes casos, o exercício físico contribuirá para adaptação de nova postura física, refletindo-se em maior habilidade para a gestante durante a prática da atividade física e do trabalho diário.
Além desses benefícios, a Organização Mundial da Saúde afirma que a atividade física durante a gravidez e no pós-parto proporciona para a mulher: diminuição do risco de pré-eclâmpsia, hipertensão gestacional, diabetes gestacional, ganho excessivo de peso, complicações no parto e depressão pós-parto. Para o bebê, são descritos os seguintes benefícios: menores complicações no recém nascido, efeitos adversos do peso ao nascer e risco de natimortalidade.
Estudos observaram que gestantes sedentárias apresentaram risco 4,5 vezes maior de nascimentos por cesárea do que as gestantes ativas fisicamente, quando controlada as variáveis idade, tipo de anestesia, alterações no IMC anterior à gravidez, trabalho de parto induzido, e o tipo de hospital de nascimento. Os resultados demonstraram que a participação em exercícios físicos, especialmente nos dois primeiros trimestres, esteve associada efetivamente ao menor risco de cesáreas.
A recomendação da OMS é de fazer pelo menos 150 minutos de atividade física aeróbica de moderada intensidade ao longo da semana para benefícios substanciais à saúde. Também recomenda-se incorporar uma variedade de atividades aeróbicas e de fortalecimento muscular. Adicionar alongamento leve também pode ser benéfico.
Contraindicações
Então quer dizer que todas as gestantes devem praticar exercícios físicos? A resposta é: nem sempre. Quando existem doenças cardíacas ou pulmonares prévias, por exemplo, os riscos normalmente não compensam os benefícios. Às gestantes com placenta prévia e, em algumas situações de pré-eclâmpsia, hipertensão gestacional e outras condições similares, pode ser recomendável evitar esforços com o corpo. A equipe que acompanha a mulher pode orientar fisioterapia e outras atividades de baixíssimo impacto nesses casos, mas é comum que a prescrição seja descanso.
Além disso, se durante a atividade física, a qualquer momento, a gestante sentir falta de ar, palpitações, náuseas e tonturas ou perceber sangramento vaginal ou uterino, a orientação é parar imediatamente e buscar atendimento. Por fim, atividades de impacto ou que envolvam risco de queda – como escalada, judô, algumas modalidades de corrida e futebol – também devem ser evitadas ou pelo menos adaptadas para a redução e prevenção dessas condições.
Considerações de segurança adicionais para mulheres grávidas quando realizarem atividades física de acordo com OMS:
- Evitar atividades físicas durante momentos de calor excessivo;
- Permanecer hidratada tomando água, antes, durante e depois da atividade física;
- Evitar participar de atividades que envolvem contato físico, devido ao alto risco de quedas, ou atividade que possam limitar a oxigênação (como atividades em altitude, quando não se está acostumada);
- Evitar atividades na posição supino (deitada, de barriga para cima), após o primeiro trimestre da gestação;
- Mulheres grávidas devem ser informadas pelos profissionais de saúde dos sinais de perigo assim como quando parar ou limitar a atividade física e consultar imediatamente um profissional de saúde qualificado quando necessário;
- Retornar gradualmente a atividade física após o parto e consultar um profissional de saude em caso de cesariana.
Além da gestação recomenda-se que no pós-parto as mulheres também limitem a quantidade do tempo em comportamento sedentário. Substituir o tempo sedentário com atividades físicas de qualquer intensidade (inclusive baixa intensidade) proporciona benefícios para a saúde.
Embora já se reconheça a contribuição da prática da atividade física regular e orientada durante a gestação, ainda não existe consenso no estabelecimento da conduta ideal para essa prática. Concluímos que, salvo poucas exceções, a prática de atividade física regular, moderada, controlada e orientada pode produzir efeitos benéficos sobre a saúde da gestante e do feto.
Referências
Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário., 2020.
Batista, D., Chiara, V. L., Gugelmin, S., & Martins, P. (2003). Atividade física e gestação: saúde da gestante não atleta e crescimento fetal. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil.
Atividade física e gestação: saúde da gestante não atleta e crescimento fetal
Guia de atividade física para a população brasileira, Ministério da Saúde., 2021.
