É seguro consumir café durante a gestação?

por | dez 22, 2023 | Gestação, Luz de Candeeiro, Parto humanizado

O café é a segunda bebida mais consumida no mundo, ficando atrás apenas da água. Globalmente, o Brasil ocupa a segunda posição no ranking de maiores consumidores de café, perdendo apenas para os Estados Unidos. Diante desse cenário de consumo tão frequente e elevado, surge a pertinente pergunta para as gestantes: é seguro para a saúde do bebê consumir café durante a gravidez?

Cafeína
Inicialmente, é crucial destacar que os possíveis riscos associados ao consumo de café estão relacionados à cafeína presente na bebida. A cafeína é um estimulante encontrado em diversos alimentos, bebidas e até mesmo em alguns medicamentos prescritos e de venda livre.

Quanto de cafeína está presente em alimentos e bebidas comuns?
A maneira mais eficaz de saber a quantidade de cafeína em um produto é conferir o rótulo do ingrediente. Abaixo estão listadas as quantidades aproximadas de cafeína em alguns itens comuns (as quantidades podem variar entre os produtos):

  • 230 ml de café coado: 137 mg de cafeína
  • 350 ml de café longo: 235 mg de cafeína
  • 230 ml de café instantâneo: 76 mg de cafeína
  • 230 ml de chocolate quente: 5 mg de cafeína
  • 350 ml de uma lata de Coca®: 46 mg de cafeína
  • 1 barra de chocolate ao leite: 10 mg de cafeína
  • 1 barra de chocolate amargo: 30 mg de cafeína

O consumo de cafeína por gestantes ainda é um tema controverso, com alguns estudos conclusivos indicando que níveis mais elevados desse consumo podem ter efeitos adversos para gestantes e bebês.

Muitos estudos observacionais sugeriram que não é aconselhável consumir café (ou qualquer bebida que contenha cafeína) durante a gravidez. Alguns artigos relatam que o consumo mais elevado de cafeína durante a gravidez pode aumentar a probabilidade de infertilidade, defeitos congênitos, aborto espontâneo, natimorto, parto prematuro, restrição de crescimento fetal e morte súbita infantil.

Aversão à cafeína
Ao mesmo tempo, alguns estudos demonstram que, durante a gestação, é comum ocorrer uma aversão natural a produtos cafeinados no primeiro trimestre, levando à interrupção ou redução no consumo.
Em um estudo que envolveu dados do Reino Unido, Dinamarca e Austrália sobre o consumo de alimentos fontes de cafeína, observou-se uma redução de 20 a 22% na ingestão da substância entre gestantes na amostra representativa da população do Reino Unido, quando comparadas a outros grupos na população geral desse país. Na avaliação das mudanças dietéticas entre o primeiro e o segundo trimestres de gestação em gestantes americanas com alto nível de escolaridade e renda, essa redução foi de aproximadamente 30% na ingestão de cafeína pelas gestantes.

A Organização Internacional de Especialistas em Teratologia (Organization of Teratology Information Specialists, OTIS) informa em seu site (https://mothertobaby.org/fact-sheets/caffeine-pregnancy/pdf/) que ainda não foi confirmado que a cafeína cause aborto em quantidades pequenas ou moderadas de até 300 mg diários. O aborto é um problema comum, e alguns estudos sugerem um maior risco quando a gestante consome mais de 300 mg diários de cafeína, sendo o risco maior em combinação com tabaco e álcool, algo comum entre muitas gestantes. O risco é maior com um consumo muito elevado de cafeína de 800 mg diários.

Afinal, posso consumir cafeína durante a gestação?

Atualmente, a OMS sugere um limite de 300 mg por dia durante a gestação, mas alguns países recomendam um limite de 200 mg. O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia publicou uma nota a partir de revisões bibliográficas, afirmando que o consumo moderado de café (menos de 200g de cafeína por dia) não se mostrou ser um fator contribuinte para abortos ou partos prematuros. A relação entre o consumo de cafeína e a restrição de crescimento fetal ainda carece de mais estudos. Apesar dos resultados, todas as revisões foram unânimes em afirmar a necessidade de mais estudos que contemplem aspectos metodológicos, como o tamanho suficiente da amostra, aferição adequada da exposição e controle das potenciais variáveis de confusão.

Hoje, o que podemos dizer é que é fundamental alertar as gestantes sobre o risco do elevado consumo de cafeína na gravidez, recomendando fortemente que não ultrapassem a dose diária sugerida.

Referências

Alice Helena de Resende Nóra Pacheco, Daniele Marano Rocha Araujo, Elisa Maria de Aquino Lacerda, Gilberto Kac. Consumo de cafeína por grávidas usuárias de uma Unidade Básica de Saúde no município do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 30(5). Link

Alice Helena de Resende Nóra Pacheco, Nathália Silva Raposo Barreiros, Iná S. Santos, Gilberto Kac. Consumo de cafeína entre gestantes e a prevalência do baixo peso ao nascer e da prematuridade: uma revisão sistemática. Cad. Saúde Pública, 23(12), 2807-2819, dez 2007.

Brasil é o maior produtor mundial e o segundo maior consumidor de café. Link café é a segunda,164,9 milhões de sacas.)

Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia. Moderate caffeine consumption during pregnancy. (2020). Link.

Leviton, A., & Cowan, L. (2002). A review of the literature relating caffeine consumption by women to their risk of reproductive hazards. Food and Chemical Toxicology, 40(9), 1271-1310.

Organização Internacional de Especialistas em Teratologia. Caffeine Fact Sheet. Link

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