“Pensei em todas as mulheres da minha família que passaram por isso e venceram!”
“Existem muitos tipos de travessias… algumas mais curtas, outras longas, outras com alguns buracos no meio do caminho e por aí vai…
A nossa travessia foi daquelas bem compridas. Digo nossa porque ela não foi só minha. Estávamos eu, bebe Isaac, meu marido e toda a equipe da Luz comigo! Fora família e os amigos em vibração e energia positiva!
Tenho hipertensão crônica e ela se manteve controlada durante toda a gestação. Por essa condição, meu parto foi hospitalar e, ainda assim contou com muita humanidade, acolhimento e assistência!
Em torno de 37 semanas, no entanto, ela começou a oscilar e a apresentar alguns picos. Acompanhamos e, numa sexta-feira (já com 38 semanas 2 dias de gestação) já tarde da noite, fomos orientados a ir no hospital para verificar a minha saúde e a do Isaac. Graças a Deus era dia de plantão da Natalie, então, fomos acolhidos por ela!
Como sempre e de forma muito gentil, ela deu a noticia de interromper a gestação, chamando nosso bebê ao parto. Internamos no sábado, dia 2/4, e nossa jornada para o parto oficialmente começou aqui. Muitos exames para garantir a segurança minha e do bebê, acompanhados de orientações clínicas, explicações, alternativas dos procedimentos viáveis foram os pontos chaves de todo esse período de indução do parto (que estão alinhados a todo o pre natal recebido!)
Meu corpo estava sem dilatação nenhuma e optamos que a primeira etapa para a indução seria mecânica, ou seja, colocaríamos o balão. A previsão era de ficar com ele até 24 horas, mas, em 1 hora após a colocação ele saiu. Dado o contexto, achávamos que não teria tido o efeito desejado e optamos por descansar uma noite de sono e no dia seguinte decidir os próximos passos. Já no domingo, Bárbara percebeu que estava com 4cm de dilatação (o que foi um sucesso!) e, dentre outras características, optamos por iniciar a oxitocina.
Juliano veio até a gente dar uma força incrível com homeopatia e comecei a sentir leves contrações! Mas, não evoluiu tanto assim. Nesse momento precisamos ter paciência e calma para lidar com a ansiedade e expectativas… entramos na segunda-feira e demos sequência ao “combo” oxitocina + homeopatia. Porém, ainda não era a hora do Isaac e, optamos por furar a bolsa. No incio da tarde meu “corpo entendeu” o convite ao parto e as contrações finalmente começaram bem acentuadas, ritimadas! Fui recebida pela fase ativa do parto! Natalie super atenciosa levou um sucha com ervas para aliviar e usar no banho!
Para lidar com a dor, Lucilia me ajudava com massagens na região lombar e eu mentalizava – como um mantra – que a cada contração significava a aproximação do meu bebê em meus braços. Não foi fácil, nunca tinha passado por uma gestação, por um parto. Dúvidas e insegurança vinham… não sabia como era parir e, enquanto estava no racional, tentando fazer direito o movimento do empuxo, Isaac “caminhava” devagarinho. Na sala de parto, olhava o relogio ao lado da maca e sentia que tinha entrado em um outro universo, com percepções de tempo alteradas, em outro nível de consciência, algo nunca vivenciado. Muitas horas e muita força depois, já no auge da dor, pedi cesaria, tinha chegado ao meu limite. Já bem de noite, fizemos analgesia. Santa analgesia! Consegui descansar meia hora, me recuperar para retomar todo o processo. Fiz muita força, estava me dedicando, lembrava dos ensinamentos da fisioterapeuta Patrícia que também me acompanhou, escutava palavras de incentivo do meu marido, da Dafny e Lucília, estava aberta de coração, mas, ele não coroava.
Até que, no meio de sentimentos e sensações tão ambíguas me permiti agir de forma muito instintiva… caminhei um pouco, tive contrações em pé e me posicionei de cócoras sem auxilio de qualquer equipamento. Urrei pela primeira vez durante todo o processo. Pensei em todas as mulheres da minha família que passaram por isso e venceram! Recorri a minha fé e pedi ajuda. Implorei mentalmente! Fiz promessa! Me agarrei a todo meu passado de mulher, todas as experiências vividas por mim, e por outras guerreiras, pus para fora toda a repressão, inseguranças, violência, todo o preconceito, tudo saiu em forma de urros, gritos. E, finalmente, senti que o Isaac se posicionou encaixando a cabecinha. Subi na cama e, na mesma posição, continuei meu apelo! Senti todo o círculo de fogo, e, com ele, toda a sensação de libertação. Faltava o ombrinho e Dafny nos ajudou mais uma vez e senti a saida total do Isaac! Exausta, mas muito feliz, às 2:27h da manha de terça-feira ouvi chorinhos. Pronto! Chegamos do outro lado da margem da travessia.
Após breve análise do pediatra, o Isaac estava no meu colo para a esperada hora de ouro. Com todo o seu instinto ele me cheirou, me conheceu pelo lado de fora, eu conheci ele, pegou meu peito (com ajuda), ameaçou sugar! Após esse tempo (que durou quase duas horas), os exames foram realizados de forma muito gentil para depois ir ao quarto e descansar, mesmo com toda a adrenalina!
Cada um tem sua história, seu trajeto a percorrer e não entendo o motivo pelo qual são tão diferentes. O nosso caminho foi longo, mas sem buracos. Isaac nasceu muito saudável, escrevo esse relato no dia do nascimento dele (após alguma horas de sono, claro). Me sinto bem, leve, poderosa, guerreira! Estou sem dores, não tive necessidade de pontos, não tive intercorrencias. Precisei ter muita paciência e acalmar a mente para não cair nar armadilhas da ansiedade extrema, para aceitar que nosso controle sobre muitas situações é um tanto superficial e que cada coisa tem seu tempo certo para acontecer.
Tenho certeza que todas nós temos essa força dentro da gente. É Dafny, consegui acessar a minha “caixinha de forças” que estava escondida dentro de mim, quando eu pensava sinceramente que já tinha usado toda a força que tinha… Sei que ainda temos o caminho da vida, de todo o aprendizado de ser mãe e pai, de errar tentando acertar, mas tenho certeza que essa “caixinha de força” que mora em mim será acessada sempre, porque ela é infinita. Ela vem do amor e do instinto que são eternos!
Obrigada toda a Luz! Todo o acolhimento, toda a segurança, toda a proteção pela saúde, pela vida! Vocês são mais que médicos e enfermeiros, vocês tem a vocação de estar próximo, disponíveis, acessíveis, protegendo vidas, estando juntos durante todo o tempo necessário!!! Toda a equipe da Luz esta em nossas vidas para sempre!
Me sinto abençoada, muito grata e com orgulho enorme – não só de mim, mas também do meu marido que se fez presente de corpo e alma durante toda a jornada!
Bem vindo ao mundo Isaac e bem vinda uma mãe e um pai que nasceram junto com ele!”