De onde vem esse medo e como você pode encontrar caminhos para transformar esse medo em segurança e confiança.
O medo do parto é um fato. Ele existe. Mas você não precisa carregar esse sentimento durante toda a gestação. Você pode, aos poucos, deixar que a segurança e a confiança ocupem esse lugar.
Para auxiliar nesse processo de transformação do sentimento de medo do parto normal, é importante entender de onde ele vem. É claro que cada mulher tem sua individualidade e sua história que precisam ser olhadas com muito cuidado e carinho, mas, de modo geral, o que percebemos é que o medo do parto está muito relacionado à dor do parto e também à falta de conhecimento do processo fisiológico.
Esse medo relacionado à dor do parto passa por questões culturais, pois as mulheres são frequentemente amedrontadas com histórias trágicas de parto, histórias de muita dor, solidão e até constrangimentos. Chegam a comparar a dor do parto com a dor de ossos sendo quebrados, cólicas renais e outros mitos.
Na prática, quando a gente vai conversar com as mulheres e pergunta o que mais doeu no parto, elas falam que não foi a dor da contração em si ou do bebê passando. O que mais doeu foi a forma como elas foram tratadas.
Ainda vivemos nessa cultura em que raramente as mulheres são colocadas no centro do cuidado. Ouvimos relatos de mulheres que não foram bem tratadas, ficando sem beber água, sem se alimentar, em posições confortáveis, sozinhas ou com pessoas com quem elas não se sentiam seguras, gerando tensão, medo e ainda mais dor.
Já as mulheres que recebem uma assistência respeitosa e acolhedora, vivenciam a dor, que parte do processo normal das contrações do parto, mas elas não ficam fixadas naquela dor, naquele medo. O acolhimento e o sentimento de segurança e conforto geram outros processos hormonais com a produção, por exemplo, de ocitocina e endorfinas, que trazem sensações prazerosas e amenizam a sensação de dor. Ou seja: transformam a experiência de parto.
Ouvimos muitas mulheres que tiveram uma experiência positiva de parto falarem que sentem saudade do parto e que gostariam de parir de novo. Isso não significa que não doeu. Houve, sim, uma dor, mas houve também um significado maior dessa experiência.
Quando contamos boas histórias de parto, histórias de mulheres que são respeitadas, que têm experiências e memórias positivas, outras mulheres podem entender que muito do medo que sentem é baseado em mitos e/ou em histórias que ouviram de partos sem o cuidado centrado na mulher.
Assim, é possível entender que muitas vezes o medo do parto não vem do processo do parto em si, mas da forma como as mulheres são tratadas nessa vivência. Por isso continuamos a incentivar que mulheres compartilhem boas histórias de parto e nascimento!
Outro fator importante para trazer segurança e tranquilidade para a mulher é o conhecimento do que está acontecendo com seu corpo na gestação e no parto. Conhecer as transformações pelas quais o corpo passa, compreender o que é fisiologicamente esperado que aconteça.
Quando o nascimento se tornou um evento médico, houve uma modificação no imaginário das pessoas sobre o entendimento da gestação e do parto. Pois, sabendo que a medicina é o tratamento da doença, passou-se a normalizar o entendimento da gestação e do parto como eventos patológicos, o que não é verdade.
Para compreender isso melhor, vamos contar um pouco do contexto histórico que nos trouxe até os dias de hoje e construiu essa cultura de medo do parto ou da percepção desse evento como algo muito perigoso; uma cultura em que grande parte das mulheres são amedrontadas e incentivadas a questionar a sua capacidade fisiológica de gestar e parir.
1. Como as mulheres pariam antigamente:
O parto, historicamente, é um evento feminino. Até o século XVIII, o parto era considerado essencialmente um assunto de mulheres, acompanhado na intimidade dos lares por parteiras e mulheres do círculo familiar.
2. Por que/quando isso começou a mudar?
Aos poucos, com a institucionalização da medicina e a organização do saber acadêmico, o parto foi migrando para o hospital e o fazer do parto, para profissionais da medicina. Processo acompanhado do desenvolvimento de instrumentos e intervenções como o fórceps, a analgesia e a cesariana.
3. O que isso causou?
Apesar dessa migração ter proporcionado maior segurança para gestações e partos com riscos elevados e que não tinham acesso à intervenção médica quando ela era necessária, o modelo centrado no hospital e em tecnologias parece ter estagnado em termos de alcance de melhorias na saúde das mulheres e dos bebês saudáveis.
Ao tratar todo nascimento como um evento perigoso, urgente, que deveria acontecer dentro de um ambiente asséptico e controlado, foi-se perdendo o conhecimento sobre as necessidades básicas de uma mulher durante o trabalho de parto e de um bebê ao nascimento.
O acesso facilitado e seguro às novas tecnologias foi acompanhado também de um “boom” de cesarianas e outras intervenções, da desconexão das mulheres com seus corpos e de uma geração inteira nascida por meio de uma cirurgia.
4. Revisão do modelo
Quando a ciência voltou a olhar para essas práticas, percebeu que mulheres com gestação de risco habitual (sem doenças como pressão alta, diabetes, entre outras) e bebês sadios não precisam necessariamente nem de hospital, nem de cuidado médico.
Sob essa nova ótica, o corpo feminino volta a ser considerado essencialmente apto e competente para dar à luz; o parto, um evento da intimidade e da sexualidade; e o nascimento, um processo natural de transição para a vida extrauterina.
5. Revisão do modelo no Brasil
Muito se fala no Brasil sobre uma necessária mudança de modelo de atenção ao parto e ao nascimento. Embora frequentemente associada a uma negação da cesariana, ou a um “forçar o parto normal”, a questão passa longe dessa famosa dicotomia.
Construiu-se em nosso país uma cultura que se baseia em medos, mitos e conveniências que sustentam altas taxas de cesarianas.
O que buscamos é o caminho de reconhecer e implementar o tripé de uma experiência de parto e nascimento segura e positiva: autonomia e protagonismo das mulheres, cuidado prestado por equipe multiprofissional e interdisciplinar, com enfermeiras obstetras e obstetrizes na assistência e, principalmente, sólidas e mais recentes evidências científicas para embasar o cuidado.
Quando entendemos de onde vem o medo e oferecemos boas informações a respeito da fisiologia e um cuidado seguro e acolhedor, é possível abrir o caminho para desconstruir medos e mitos que amedrontam as mulheres. Por isso, continuamos a incentivar que elas se informem e escutem boas histórias de parto e nascimento! Aqui no nosso blog temos dezenas de lindas histórias.
Te convidamos a trilhara transformação desse medo para encontrar a segurança na fisiologia (o seu corpo foi feito para gestar e parir)e na força que existe dentro de você. Claro, acompanhada por uma equipe que te apoie e que vai segurar a sua mão na travessia do parto e te dizer que você consegue, que é possível.
Toda mulher carrega em si a capacidade de gerar e dar à luz uma vida caso assim deseje. Confie nisso!
6. A Luz de Candeeiro nessa história
A Luz de Candeeiro nasceu da necessidade premente e do desejo potente de existir para estar ao lado das mulheres, de ser uma mão segura em suas travessias e proporcionar recepções calorosas para serezinhos que estão estreando no lado de cá da vida.
Embrenhar-se em caminhos inéditos – como ser esse modelo de Centro de Parto Normal inovador do Brasil – é um tanto desafiador. A beleza do caminhar e da paisagem fazem tudo valer a pena.
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