Por mais que a medicalização do parto ainda faça as mulheres acreditarem que este é um evento altamente perigoso, que necessita de muitas intervenções médicas, viemos aqui para te dizer que segurança e satisfação não estão relacionadas à hipermedicalização do parto!
É fundamental que as gestantes entendam sobre os cenários possíveis do parto, bem como quais profissionais que tem habilitação para acompanhá-las neste processo. E, nesse âmbito, precisamos falar mais sobre enfermeiras obstetras e obstetrizes.
É seguro ter um parto com enfermeiras obstetras ou obstetrizes?
Como Renata Reis (CRM/DF: 15.599, médica ginecologista/ obstetra e uma das fundadoras da Luz de Candeeiro) muito bem diz neste vídeo: Todos os partos precisam de uma enfermeira(o) obstetra ou obstetriz, mas nem todos os partos precisam de médico.
Desde 1990, os países que foram mais bem-sucedidos em reduzir a mortalidade materna, em 2% a 5% ao ano, o fizeram a partir da inserção da enfermeira obstétrica e de obstetrizes na assistência ao parto e nascimento. É impossível construir um sistema de atenção à saúde das mulheres e recém-nascidos que seja seguro, sem enfermeiras obstétricas e obstetrizes (Principais Questões sobre Atuação da Enfermagem Obstétrica na Equipe Multidisciplinar )
O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), por meio da resolução nº 516/ 2016 [RESOLUÇÃO COFEN Nº 516/2016 – ALTERADA PELAS RESOLUÇÕES COFEN NºS 524/2016 E 672/2021 ], normatiza a atuação e a responsabilidade da assistência ao parto normal de baixo risco por profissionais titulares de diplomas ou certificados de Obstetriz ou Enfermeiro Obstetra. Nos países com melhores indicadores em saúde materna e neonatal, o modelo de atendimento alicerça-se no trabalho das enfermeiras obstétricas e obstetrizes.
Ou seja, mulheres e bebês saudáveis podem, sim, receber cuidados de enfermeiras obstetras e obstetrizes com elevadas taxas de segurança e satisfação.
Mundialmente a(o) enfermeira(o) obstetra e obstetriz já são reconhecidas(os) como profissionais essenciais para prestar assistência à parturiente.
Isso porque a desmedicalização no campo obstétrico tem como eixo o cuidado centrado na mulher, com respeito à fisiologia e à autonomia, na perspectiva das boas práticas (conhecimentos estruturados para oferecer outras possibilidades na vivência do parto e nascimento). Os partos de risco habitual, preferencialmente, devem ser assistidos por enfermeiras obstétricas e obstetrizes.
O que faz uma enfermeira obstetra/obstetriz?
A(o) enfermeira (o) obstetra ou obstetriz é a (o) profissional que tem a oportunidade de assistir a mulher desde o pré-natal, iniciando assim uma conexão que é continuada até o pós-parto. A enfermeira obstetra/obstetriz promove segurança, acolhimento e efetividade na atenção, proporcionando maior autonomia da mulher e garantindo-lhe seus direitos. Como exemplo, temos: inclusão da mulher na tomada das decisões, proteção e promoção da gravidez e parto como processos fisiológicos e saudáveis.
A enfermagem é uma profissão que zela e determina relações de auxílio a pacientes, sempre voltada à busca pelo fornecimento de cuidados adequados.
Isso quer dizer que não precisamos de médicas (os) no cenário do parto?
De forma alguma! No Brasil, o modelo vigente ainda é médico-centrado e essa é uma realidade que precisa mudar para um modelo no qual a mulher seja a protagonista do cuidado. Em obstetrícia, deve-se trilhar os caminhos em equipe: tanto médicas(os) obstetras quanto enfermeiras obstétricas e obstetrizes são necessárias.
Bem como afirma Borgonove para o Portal de Boas Práticas da Fiocruz: “Se os médicos são especialistas em patologias e anormalidades, as enfermeiras obstétricas e obstetrizes são especialistas em normalidade. São as diferenças de natureza técnica que caracterizam o trabalho especializado, e que são próprias de cada profissão e necessárias para o trabalho em equipe. A autonomia na enfermagem significa a prática de profissionais que vão utilizar dos seus conhecimentos, habilidades e competências e dessa maneira vão tomar decisões no seu espaço de atuação. Cada profissional responde pela sua atuação.”
Assim, a atuação da enfermagem obstétrica no cenário do parto de risco habitual não exclui o médico da assistência, mas otimiza a assistência do profissional médico para os cenários onde essa assistência especializada se faz realmente necessária. A participação da enfermeira obstetra e obstetriz pode oferecer este equilíbrio entre as intervenções necessárias e o processo fisiológico da parturição, sobretudo para as mulheres que necessitam de um atendimento de maior complexidade, pois são estas que necessitam de maiores cuidados.
Investir na formação da enfermagem obstétrica e na ampliação e criação de mais casas de parto tem potencial para mudar a realidade obstétrica no Brasil, seja no SUS ou no sistema privado, pois há evidências de que onde tem enfermagem obstétrica, há uma maior oferta de boas práticas e menor uso de intervenções no processo fisiológico do nascimento. Portanto, verifica-se a necessidade de as mulheres e seus familiares obterem informações e terem acesso ao cuidado de enfermeiras obstetras/obstetrizes em qualquer ambiente.
Aqui na Luz de Candeeiro, temos enfermeiras obstetras responsáveis pela assistência dos partos que ocorrem no Centro de Parto e que atuam em conjunto com a equipe médica em partos hospitalares. Desde o pré-natal, elas trabalham para garantir uma boa experiência. Ter enfermeiras(os) no pré-natal, parto e pós-parto não é romantismo, é ciência!
Referências bibliográficas:
Silva, Gabriella Barros. Mendonça, Tamires. O papel do enfermeiro obstetra no parto normal humanizado. Revista científica multidisciplinar núcleo do conhecimento. Ano. 06, ed. 09, vol. 01, pp. 05-25. Setembro 2021. ISSN: 2448-0959, link de acesso:
O papel do enfermeiro obstetra no parto normal humanizado , DOI: 10.32749/
MEDINA, Edymara. MOUTA, Ricardo. CARMO, Cleber. FILHA, Mariza. LEALm Maria. DA GAMA, Silvana. Boas práticas, intervenções e resultados: um estudo comparativo entre uma casa de parto e hospitais do Sistema Único de Saúde da Região Sudeste, Brasil. Rio de Janeiro, 2023.
Borgonove, Kelly.Principais Questões sobre Atuação da Enfermagem Obstétrica na Equipe Multidisciplinar. Acesso:
Principais Questões sobre Atuação da Enfermagem Obstétrica na Equipe Multidisciplinar
RESOLUÇÃO COFEN Nº 516/2016 – ALTERADA PELAS RESOLUÇÕES COFEN NºS 524/2016 E 672/2021
Sandall J, Soltani H, Gates S, Shennan A, Devane D. Midwife-led continuity models versus other models of care for childbearing women. Cochrane Database of Systematic Reviews 2016, Issue 4. Art. No.: CD004667. DOI: 10.1002/14651858.CD004667.pub5. Acesso: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/05/Sandall_et_al-2016-.pdf