“Está grávida? Parabéns! Vai tentar um parto ou já marcou a data da cesariana?“
Pode parecer estranho, mas essa frase é repetida milhares de vezes ao dia nesse nosso país continental. E, antes que possa parecer que somos contra as cesarianas, te convido a preparar uma xícara de chá e sentar aqui pra gente conversar.
O que gostaríamos de contar para as mulheres é que a gente só escuta isso das amigas porque nascemos e moramos em um país que respira medo. Apenas uma geração separa as nossas avós – que na sua grande maioria não escolhiam o tipo de parto e muitas vezes nem tinham acesso ao cuidado hospitalar adequado se necessário fosse – das nossas mães, que nos trouxeram à vida em uma cultura já impregnada com a crença na incapacidade do corpo feminino para nos gestar, parir e amamentar com confiança e apoio de profissionais de saúde e familiares.
Então você engravida, olha para o lado… e quase nenhuma das pessoas da sua família e entre suas amigas tiveram um parto normal; ou pior, se tiveram, foi um parto marcado por muitas intervenções que nos desconectam da nossa fisiologia, trazem dor, medo e deixam a memória do parto impregnada como algo negativo, com muito sofrimento, risco e dor.
Olhando por esse ponto de vista, parece bastante óbvio que a opção “agendar a data da cesariana” pareça mais simples, rápida, “indolor” e controlada do que aguardar por um parto normal. Isso sem contar a célebre comparação: “melhor cortar por cima” (cicatriz da cesariana) “do que por baixo” (episiotomia, ou corte no períneo feito em muitos partos normais e que tem sido desaconselhado pela ciência atual). E ainda tem o medo da dor, tão difundido que já foi até incorporado na expressão da língua portuguesa “aquilo foi um parto” para qualquer coisa que seja extremamente difícil de se conseguir e que não tem nenhuma relação com parir, como conseguir um documento por exemplo.
Imagina agora que você tivesse no seu círculo familiar e de amizade mulheres que tiveram partos normais e falassem com carinho e saudade do dia em que pariram, reconhecessem a experiência como bastante positiva e algumas delas até como prazerosa? Fica diferente, né?!
Nós defendemos, acima de tudo, o direito das mulheres de decidirem sobre seus corpos, seus partos, sobre cada detalhe do nascimento de seus bebês, sua amamentação, sua maternidade, sua vida. Mas entendemos que só existe escolha real quando existe informação de qualidade e apoio para a decisão do seu coração.
Defendemos que essa escolha venha a partir de informações de qualidade e não a partir do medo – nem do seu medo, nem do medo das pessoas do seu círculo social ou do profissional de saúde que está acompanhando seu pré-natal. Ah, sim, ainda tem isso: nós, profissionais de saúde, também crescemos na mesma sociedade que você, na mesma cultura, e, durante a nossa formação, infelizmente, ainda é raro termos oportunidade de presenciar a potência de uma mulher parindo com liberdade, sentindo-se cuidada, amada e protegida. Aprendemos vendo mulheres parindo deitadas, com medicações que aumentam a sensação dolorosa, sozinhas, em jejum, amedrontadas. E esse parto… esse não é bom para ninguém!
Parto normal ou cesariana, ambos possuem riscos e benefícios e conhecê-los antes de tomar uma decisão é um direito das mulheres e famílias. E em geral, quando conhecemos tanto os riscos de uma cesariana desnecessária como todo o potencial de transformação de um parto normal fisiológico, desejado e bem assistido, a escolha muda.
Não faltam na literatura científica estudos mostrando os benefícios do parto normal sobre a cesariana tanto para mulheres, bebês e até para os sistemas de saúde. Isso já é assunto cientificamente esgotado. Vamos deixar ao final desse texto alguns links úteis e dicas de onde encontrar informações de qualidade. O que falta é gente te convidando para um chá, olhando no seus olhos, ouvindo suas dúvidas, medos, preocupações com empatia e te dizendo que você não faz ideia de quão forte e capaz você é. Que você pode, sim, ter escolha.
Você pode ter um parto normal ou uma cesariana incríveis, o mais importante é que seja uma escolha que faça sentido para você após tirar os véus dos medos e preocupações.
Quer falar mais sobre isso?
Marque uma consulta e venha tomar um chá com a gente!
Locais para você se informar:
Pesquisa Nascer no Brasil: clique aqui para ler a pesquisa. Clique aqui para assistir ao vídeo.
Um Dia de Vida: clique aqui para assistir ao vídeo.
A dor no parto é impulsionadora do nascimento: clique aqui para assistir ao vídeo.
Netflix: O Renascimento do Parto (documentário)
Sentidos do Nascer: clique aqui para ler.Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente: clique aqui para ler.