A minha jornada se inicia quando no auge das 38 semanas de gestação, testei juntamente com o meu esposo positivo para COVID-19. O diagnóstico mudou completamente a minha perspectiva com relação a data do parto, logo eu que ansiava por um parto com 37 semanas, agora orava a Deus para que ele se estendesse, se possível após as 40 semanas. Mas Deus tinha outros planos.
No dia 28 de julho (38s + 5d) observei um aumento significativo da quantidade de secreção vaginal, algo esperado no final da gestação, entretanto por volta das 22:30h a minha bolsa rompeu, comuniquei o fato a equipe que me acompanhava no pré-natal (história para o próximo capítulo) que me orientou a aguardar até o dia seguinte e observar/comunicar se o trabalho de parto iniciasse. Foi uma noite longa, eu imaginava que iria entrar em trabalho de parto nas próximas horas.
A nossa mala até então estava preparada para um parto na casa de parto, mas devido a contaminação teríamos um parto hospitalar, fomos então “reorganizar a mala, arrumar a documentação” e durante a madrugada, iniciei com contrações leves, continuas, constantes, passamos a noite inteira monitorando (cheguei a me iludir que a dor do trabalho de parto era aquela mesmo, ledo engano). Na manhã do dia seguinte, fui orientada a tomar um banho morno e após o banho não senti mais nada. A tarde partimos para o hospital onde fui recebida e avaliada pelo Dr. Juliano. Ouvi desanimada dele que o meu colo não havia dilatado e que continuava “grosso”, portanto, a noite perdida e aquelas contrações que eu senti tratava-se apenas de pródomos (contrações de treinamento). Às 19:37h iniciamos então a indução do trabalho de parto com a administração de um comprimido via vaginal e antibiótico venoso. As contrações então começaram a ser mais intensas entretanto não ritmadas, próximo toque e mais uma notícia desanimadora: meu colo apesar de ter apagado, não apresentava dilatação.
Então os médicos que me acompanhavam (Dr. Juliano e Renata) propuseram utilizar um artificio mecânico na tentativa de ajudar o colo a dilatar, tratava-se de insuflar um balão no colo uterino e pendurar um S.F.0,9% na parte externa, o procedimento foi muito difícil de ser realizado, a vagina que se alonga durante a gestação dificultava a visualização do colo para inserção da sonda. Neste momento eu pensei: vou tentar, quero ter na minha mente a certeza de que utilizei todos os artifícios disponíveis para o parto normal, mas acho que vou acabar indo pra cesária! Após algumas tentativas, eis que a Dr. Renata conseguiu mesmo as cegas, anestesiar o colo e introduzir a sonda! Aí digamos “o bicho pegou”. As contrações começaram a ficar extremamente intensas, eu pensava: “agora eu entendo todas as mulheres que pediram pra fazer cesária, lembrava de amigas que passaram por isso inclusive”.
Mas eu estava convicta, na verdade sempre fui! Em nenhum momento, nem nas dores mais inimagináveis durante o processo eu pensei em solicitar a cirurgia.
A cada contração a dor na região lombar tornava-se insuportável, eu suplicava para que o Wanderson fizesse massagem na minha lombar e era isso que “aliava” e me fazia aguentar a próxima. Preciso ressaltar o papel importante, fundamental, no meu caso diria que essencial do meu parceiro, sem ele, não teria conseguido. Para mim, a presença e a atuação digamos física, no sentido de me amparar, fazer massagem, segurar a minha mão, estender a sua mão para que eu apertasse, fazia mais sentido do que qualquer coisa que ele dissesse e ele foi incrível!
A noite foi muito longa, a privação de sono, seguida de contrações tão intensas estava me deixando exausta! Eu disse a Dr. Renata: não sei se poderei fazer isso, imagine que eu estou no auge de uma gripe forte e preciso escalar uma montanha, ela olhou pra mim de uma forma muito generosa e disse: eu sei disso… tudo bem, descansa, vc precisa! (impossível lembrar disso sem me emocionar, eu achei que irei sucumbir).
Bom, aí eu deitei, a cada contração o Wanderson marcava, fazia massagem, eu gritava e depois tentava dormir de novo. Aí eu perdi um pouco a cronologia do tempo, voltei a alternar banho morno com água apenas na região lombar (pq foi o lugar onde a dor era mais insuportável), com pequenas caminhadas pelo quarto, até que a Dr. Renata observasse que o sonda havia retraído e fizesse a remoção do restante que faltava (quanta dor eu senti nesse momento). Durante o banho morno, as contrações começaram a ficar curtas, cerca de 1min entre uma e outra, nesse momento eu visitei a tão falada partolândia, por algumas vezes eu me sentia em transe, mas daí eu voltava e começava novamente a racionalizar todos os momentos!
Eu sabia que precisava relaxar, que precisava imaginar que o meu corpo estava se abrindo, lembrava de algumas coisas que ouvia: pensa em uma flor desabrochando, pensa no mar se abrindo, alguns vezes eu fiz isso msm, tentava concentrar o meu pensamento para a minha pelve e pensar que ela estava se abrindo, em outros eu pensava: foda-se a flor! Kkkk. Eu gritava para Deus me ajudar! Sim eu gritava muito! Foi aí que veio um novo toque e a dilação havia progredido para 6-7cm, eu tentava pensar na pior hipótese “deve tá em 6cm” para não criar falsas expectativas. Dr. Juliano propôs então romper o restante da bolsa, mas para isso ele precisava realizar o toque durante a contração e isso sim era uma dor absurda, eu disse que tentaria, mas não sabia se aguentaria, o Wanderson falava: aguenta amor! Vc aguenta, me dava vontade de mandar ele ir para o inferno (hahahaha). A contração e o toque vieram, e pasme eu aguentei, mas não foi necessário estourar a bolsa, ela já havia estourado provavelmente no chuveiro, onde por diversas vezes eu pensei em pedir analgesia, como uma forma de acalentar ou de buscar forças eu pensava: acho que a minha saída será analgesia! A Antônia não estava muito bem posicionada e daí a Dr. Renata propôs a realização de spinning babies, no intervalo das contrações e assim o fizemos!
Pela manhã, a essa hora eu já não lembrava mais do COVID, acredito que a adrenalina bloqueou os sintomas, novo toque e a constatação, estava com 9cm de dilatação!
Quando a Dr. Renata disse isso, eu perguntei: Você não está mentindo pra mim não neh? E ela disse: olha nos meus olhos, eu jamais mentiria. Aí eu pensei: vou aguentar sem analgesia! Foi aí que então me levaram para o Centro Obstétrico, o caminho mais longo e doloroso da vida! As contrações vinham comigo em movimento, em cima de uma maca e sem a massagem do Wanderson! Foi terrível, mas o pior ainda estava por vir! Na entrada do CO tentaram impedir a entrada do Wanderson (devido a contaminação do COVID) e nessa hora eu desesperei: GRITEI, IMPLOREI para que não fizessem isso comigo! (outro momento que não dá pra lembrar sem me emocionar).
Foi então que a Dr. Renata foi bem incisiva e disse que já havia conversado e que ele entraria sim! O Wanderson então se paramentou e entrou no CO, só quando percebi a presença dele que consegui relaxar.
As contrações estavam absurdamente insuportáveis, eu novamente racionalizava: dizem que até os 10 cm é o caminho mais difícil, meu Deus me ajuda a chegar lá! A Dr. Renata me propôs ir para a banqueta para facilitar o processo, apesar de não gostar de agachar (pq piorava a dor) eu aceitei! Estava pedindo a Deus o tempo todo que viesse a tal vontade de empurrar, mas ela não vinha! Foi então que a Dr. Renata disse: vc precisava concentrar a sua força aqui em baixo, ai eu olhei pra ela e perguntei: mas eu já dilatei os 10 cm? E ela disse sim, agora vc precisa fazer força! E eu incrédula: como assim? Eu não sabia! E kd a vontade de empurrar, na verdade eu só pensei msm, confiei no que ela estava me dizendo e quando a próxima contração veio eu fiz força e pasmem: a dor era menor!
Apesar da contração ser na msm intensidade, quando eu fazia força doía menos, então eu pensei: agora vai! Tentei a posição de quadro que pra mim era confortável, mas após algumas tentativas a Dr. Renata me disse que a descida não progredia e me sugeriu uma nova posição, no caso sentada na maca. Foi a melhor posição sem dúvidas! A minha lombar estava apoiada, eu pedi um soro morno pra colocar entre ela (a lombar) e o colchão (isso me dava um conforto absurdo) e eu podia fazer força com o ferro que estava ao alcance das minhas mãos! Eu lembrava o tempo todo de uns relatos de partos que havia lido “fiz três forças e ele (a) nasceu” e eu pensava: como assim essas criaturas fizeram três forças e o menino nasceu e eu estou aqui, colocando toda a força da minha vida e NADA???
A Dr. Renata sugeriu juntar os joelhos na hora da contração e eu lembrei no mesmo segundo da imagem que a Enf. Ana Cynthia havia compartilhado no grupo de gestante, mostrando como o canal se abria nessa posição e pensei na próxima eu faço e fiz e deu certo a descida progrediu! As contrações começaram a espaçar, lembro de até cochilar entre uma e outra, era o meu corpo tentando finalmente ser um pouco generoso comigo! Quando eu sentia que a próxima contração estava chegando, eu não sei se eu chorava, se me desesperava ou se pensava no que muitos já me disseram: pensa que cada contração é uma a menos!
Enfim, concentrei todo o meu pensamento, toda a minha energia na contração, eu podia sentir a ansiedade na respiração do Wanderson, já dava pra eu msm palpar a cabeça da Antônia, estava muito perto! Fiz a força do mundo e aí senti a cabeça dela coroar e senti o CÍRCULO DE FOGO!
Nenhuma simulação que eu pudesse ter feito na fisioterapia seria suficiente para descrever a sensação de queimação desse momento! Eu poderia ter feito a força completa e expulsar a Antônia, mas msm assim eu ouvi a Dr. Renata pedindo pra relaxar e lembrei da minha fisioterapeuta dizendo que na hora que eu mais quisesse empurar, era nessa hora que eu teria que ser forte e relaxar e eu pensei: “ suportar agora e não lacerar o meu períneo” e segurei! Depois de tomar essa atitude eu arrependi na hora (kkkk), pq as contrações estavam espaçadas lembram? Pois é! Precisei esperar cerca de 5 min com a Antônia coroada para a próxima contração chegar e aí eu expulsá-la completamente.
Leia mais relatos de partoForam os 5 min mais demorados da minha vida! Às 13:15h do dia 30/07 (com 39 semanas exatas) quando a contração chegou eu relaxei e só encostei o queijo no meu tórax, com essa pressão ela finalmente nasceu e eu vi a lágrima escorrer nos olhos do Wanderson na hora! Que momento mais lindo e sublime!