Você sabe o que é uma laceração ou episiotomia?

por | ago 21, 2023 | Gestação, Parto humanizado

Um dos medos comuns das mulheres durante a gestação é a possibilidade de uma laceração perineal, que consiste em uma lesão na área entre a vagina e o ânus, que pode ocorrer durante o parto devido à passagem do bebê. Esse tópico pode gerar apreensão e dúvidas, e é por isso que estamos aqui para esclarecer melhor sobre lacerações, para que as mulheres possam obter informações sólidas e tomar decisões informadas sobre seus partos.

O que é o períneo?

Anatomicamente, é a região localizada na parte inferior da pelve. Constituído por um conjunto de músculos conhecido como assoalho pélvico, além de tecidos como fáscias e ligamentos, o períneo é abundantemente inervado e vascularizado. Nas mulheres, seu centro se encontra entre a vagina e o ânus, desempenhando funções cruciais, como sustentar os órgãos pélvicos, viabilizar contrações vaginais e retais, estabilidade da postura ereta e sexualidade.

Laceração perineal: o que é, quais são os tipos?
A laceração perineal é o rompimento não intencional da pele e de outras estruturas de tecidos moles nas mulheres. Essas lesões podem variar consideravelmente em termos de gravidade, sendo que a maioria é superficial e não requer tratamento médico.
Porém, lacerações mais severas podem causar sangramentos significativos, dor e até mesmo disfunções a longo prazo. Elas são classificadas da seguinte maneira:

  • Primeiro grau: envolve apenas a pele e as mucosas;
  • Segundo grau: atinge os músculos perineais, sem afetar o esfíncter anal;
  • Terceiro grau: afeta o períneo, envolvendo o complexo do esfíncter anal:
    3a: laceração de menos de 50% da espessura do esfíncter anal;
    3b: laceração de mais de 50% da espessura do esfíncter anal;
    3c: laceração do esfíncter anal interno;
  • Quarto grau: abrange o períneo, comprometendo tanto o esfíncter anal interno quanto externo, além do epitélio anal.

As enfermeiras obstetras são devidamente treinadas para avaliar e reparar essas lacerações perineais e têm a competência de realizar os procedimentos necessários em partos extra-hospitalares e hospitalares, desde que se tratem de lesões de primeiro e segundo grau. No entanto, mulheres que tenham vivenciado partos extra-hospitalares e apresentem lesões de terceiro e quarto grau devem ser encaminhadas para o cuidado médico em um ambiente hospitalar.

Conheça um pouco mais sobre esse assunto clicando aqui, a enfermeira Giovana (COREN 523039) explica um pouco mais sobre o assunto, o nosso corpo é uma potência!

A vagina, o sexo e o parto
A vagina, o sexo e o parto

O que é a episiotomia?
Quando falamos de lacerações em uma cultura que muitas vezes subtrai a autonomia e o protagonismo da mulher durante o parto, é essencial discutir a episiotomia. A episiotomia é um corte realizado no períneo para ampliar o canal de parto. Embora tenha sido amplamente usada como medida profilática na década de 1920, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, desde as primeiras diretrizes de melhores práticas de assistência ao parto, que a episiotomia não seja realizada rotineiramente.

Apesar da crença cultural de que a episiotomia beneficia mulheres e bebês durante o parto vaginal, não há evidências científicas que comprovem sua necessidade. Na verdade, seu uso rotineiro deve ser desencorajado, pois pode aumentar a probabilidade de lacerações de terceiro e quarto grau em partos subsequentes.

Embora a taxa de episiotomia no Brasil tenha diminuído nos últimos anos, atingindo 54%, ainda é alta quando comparada a países como Estados Unidos (24,5%), França (13,3%) e Holanda (10,8%).

Episiotomia X laceração

Uma observação importante: independentemente do uso de anestesia e de um corte “controlado” e mínimo possível, a episiotomia ainda resultará em uma laceração de segundo grau. Isso ocorre porque o corte da episiotomia causa uma ruptura nas fibras musculares no sentido contrário, dificultando a cicatrização. Em contraste, uma laceração espontânea segue o alinhamento das fibras musculares, facilitando a recuperação do corpo.

As lacerações perineais de primeiro e segundo grau raramente geram problemas duradouros. Entre as mulheres que sofreram lacerações, 60 a 80% não apresentam sintomas após 12 meses.

Aqui no blog nós temos um texto falando sobre ervas e cuidados com o períneo, clique aqui para conhecer mais!

Existe uma maneira de prevenir uma laceração perineal espontânea?

Não existe uma fórmula infalível para garantir a integridade do períneo após o parto. Um estudo realizado pela Escola de Enfermagem da USP identificou uma associação entre a posição horizontal durante o período de expulsão do parto e o uso de episiotomia, particularmente nas posições litotômica e semissentada. Isso ressalta a importância de informar as mulheres sobre as diversas posições de parto, para que elas possam se sentir mais seguras durante esse processo!

Inclusive, temos um vídeo esclarecedor sobre as posições possíveis durante o trabalho de parto, clique aqui para assistir o vídeo completo.

O que observamos aqui na Luz de Candeeiro é que a liberdade de movimento da mulher e o respeito pelo ritmo fisiológico da fase de expulsão contribuem para reduzir a frequência de lacerações perineais. Em outras palavras, a capacidade de movimentação pode aumentar significativamente a percepção de controle do próprio corpo pela parturiente, permitindo uma experiência de parto mais positiva.

Alguns benefícios da livre movimentação incluem:

  • Possível diminuição do tempo total de trabalho de parto.
  • Facilitação da descida do feto, contribuindo para o alinhamento do bebê com a pelve materna.
  • Maior mobilidade do sacro, oferecendo mais espaço para o feto na parte inferior da pelve.
  • Redução da necessidade de analgesia.
  • Diminuição das lacerações graves, possivelmente devida à adaptação gradual do períneo à descida da cabeça do bebê.
  • Menor ocorrência de episiotomias.

Durante o pré-natal na Luz de Candeeiro, temos várias ocasiões em que falamos sobre a possibilidade e sobre as características mais comuns dessas lacerações: não são profundas nem extensas, cicatrizam muito bem, principalmente se comparadas a uma episiotomia.

Também é importante ter em mente que a ocorrência de uma laceração no períneo não significa falha do corpo ou da mulher no seu preparo. Esses processos fisiológicos não estão sob o controle de parturientes, apesar de serem positivamente influenciados por um contexto de assistência segura e respeitosa.

Referências

DIRETRIZES NACIONAIS DE ASSISTÊNCIA AO PARTO NORMAL, Ministério da Saúde: Secretaria de Ciência, tecnologia e Insumos Estratégicos. 1º edição eletrônica, Brasília, 2017. Link: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf

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Realização da episiotomia nos dias atuais à luz da produção científica: uma revisão

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Prática da episiotomia: fatores maternos e neonatais relacionados | Revista Eletrônica de Enfermagem .

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POSIÇÕES DA MULHER DURANTE O TRABALHO DE PARTO E PARTO: BENEFÍCIOS DA LIVRE MOVIMENTAÇÃO. https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/handle/icict/48914/posicoestppartolivremovimentacao.pdf;jsessionid=712D84FCD680C7605F9278B8FA0A5A50?sequence=2

RIESCO, Maria Luiza Gonzalez et al. Episiotomia, laceração e integridade perineal em partos normais: análise de fatores associados. Revista Enfermagem UERJ, v. 19, n. ja/mar. 2011, p. 77-83, 2011Tradução . . Disponível em: https://repositorio.usp.br/directbitstream/30fc8690-e719-4a0e-b1ed-73e1a99ba690/RIESCO%2C%20M%20L%20G%20doc%2063.pdf. Acesso em: 16 ago. 2023.

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